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O fenômeno Javier Milei

Figura antissistema da direita radical projetou-se no cenário político em 2020. (Foto: Reprodução)

O deputado argentino Javier Milei surpreendeu o mundo nas eleições primárias para escolha dos candidatos de cada grupo político, tida como um primeiro de três turnos eleitorais para a presidência da Argentina. Milei ficou em primeiro lugar, com cerca de um terço dos votos totais, bem à frente do governista Sergio Massa e da candidata Patricia Bullrich, da coalizão de partidos Juntos por el Cambio, de centro-direita.

Economista, professor e escritor, Milei tem um perfil completamente distinto de político do que estamos acostumados, utilizando-se sempre de uma extrema franqueza para se dirigir às castas políticas tradicionais e àqueles que acreditam no modelo mais que fracassado de economia com ampla presença do Estado. É um liberal que não faz concessões ao estatismo, reforçando sempre a superioridade moral, ética e de resultados do capitalismo de livre mercado.

O que mais chama atenção no caso da ascensão de Milei e sua possível eleição para a presidência do segundo país mais importante da América do Sul é o quanto a sua posição político-ideológica é estranha e incompreensível por grande parte dos analistas políticos e jornalistas, não só argentinos, mas também mundo afora. Não me dirijo aqui à parcela de jornalistas que são de fato politicamente enviesados, mas sim àqueles que estão realmente interessados em noticiar os fatos e a verdade, mas que, por dificuldades de formação e limitação do debate político, acabam não reconhecendo o que seria a figura de Milei.

Um liberal-libertário, como se diz Javier Milei, é alguém que, ao analisar qualquer situação que envolva relações sociais, irá sempre partir de uma ética individualista e anticoletivista. Ora, mas individualismo não é algo que aprendemos desde crianças como uma característica ruim? Claro que não é. Defender um ponto de vista individualista significa preservar a menor minoria que existe e sua total autonomia de escolhas. Seja nas relações econômicas, seja nas formas de pensamento e expressão, direito de associação e tudo o mais que é inerente à vida social. Somente os indivíduos deveriam ter arbítrio sobre aquilo que seria o melhor caminho para si mesmos, sem depender dos mandos e desmandos de terceiros.

É evidente que Milei, caso seja eleito, não conseguirá abolir completamente a estrutura estatal argentina, e, mesmo se tiver grande sucesso, ainda restará muito Estado para ser mantido à custa dos pagadores de impostos. Entretanto, a questão principal aqui são os valores existentes como ponto de partida, afinal, uma agenda arrojada de privatizações e liberalização econômica genuína só vingará se for executada com muita força e rapidez, não permitindo concessões demais ao status quo estatista. Pouco tempo atrás, uma outra agenda de reformas, com Maurício Macri, tentou corrigir os rumos do país, mas concedeu muito, enfraqueceu-se e perdeu a reeleição para o incompetente esquerdista Alberto Fernández.

Por fim, é claro que as dificuldades para um futuro governo Milei serão imensas, afinal, estamos falando de um país que há décadas vive em imensa crise econômica e que, por interesses setoriais ou medo geral de piora, imporá muita pressão ao novo governo. Mas, independentemente disso, por tudo que já pude observar do perfil de Javier Milei, cuja inteligência, capacidade argumentativa e habilidade para liderar um amplo movimento político são inquestionáveis, tenho esperança de que será diferente com ele. A Argentina merece muito mais do que o peronismo, kirchnerismo ou qualquer outro ismo que a levou para esta decadência econômica em que se encontra. Neste momento, Javier Milei é a figura perfeita para tentar salvar os nossos hermanos deste verdadeiro inferno que o estatismo e o populismo lhes proporcionaram.

Paulo Giacomelli, arquiteto e urbanista, empresário e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

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