Nesta quinta e sexta-feira, o Iecine (Instituto Estadual de Cinema) do Rio Grande do Sul promove no 47º Festival de Cinema de Gramado a exibição de filmes com acessibilidade. As sessões especiais estão marcadas para as 14h na Sala Elisabeth Rosenfeld da Câmara dos Vereadores da cidade da Serra Gaúcha.
As exibições oferecem ao público recursos de audiodescrição, legendas e Libras (Língua Brasileira de Sinais), contemplando assim espectadores com diferentes necessidades especiais. Em cartaz, os longas-metragens gaúchos “A Cabeça de Gumercindo Saraiva”, assinada por Tabajara Ruas, e “Rasga Coração”, de Jorge Furtado. Ambos chegaram às telas no ano passado.
Movimentação
Mais importante evento nacional dedicado à chamada “Sétima Arte”, o Festival de Cinema de Gramado de 2019 começou na última sexta-feira e prossegue até este sábado. Em destaque, as mostras competitivas que nesta edição contam com 19 longas e 34 curtas-metragens produzidos no Brasil e em outros países da América Latina.
Disputam o troféu Kikito sete títulos na categoria de longas nacionais: dentre os destaques estão a cinebiografia “Hebe: A estrela do Brasil”, de Maurício Farias, com Andréa Beltrão na pele da apresentadora.
Também são realizadas exibições paralelas, sessões especiais, debates e discussões sobre o mercado audiovisual, que neste ano inclui a polêmica questão do tratamento dispensado pelo presidente Jair Bolsonaro à atividade. Em entrevistas recentes (e que têm sido alvo de duras críticas do setor), ele reiterou que não descarta a possibilidade de extinção da Ancine (Agência Nacional do Cinema) e defendeu a necessidade de “filtrar” os tipos de filmes que o órgão federal deve ou não bancar.
A exemplo do que tem feito em relação a outras áreas da cultura muito antes de se eleger para o Palácio do Planalto, ele questiona os conteúdos associados a questões de sexualidade, por exemplo. Mesmo sem admitir planos de censura, Bolsonaro tem criticado projetos aprovados para captação de recursos por leis de incentivo. Ou seja, um assunto e tanto para o evento que começa nesta sexta-feira.
Trajetória
A primeira edição do Festival, em 1973, surgiu da união da prefeitura local com secretarias estaduais, Embrafilme, Funarte (Fundação Nacional de Arte) e Companhia Jornalística Caldas Júnior. As primeiras edições, realizadas no verão, foram marcadas por sensacionalismo, nudez e estrelas que buscavam fama e reconhecimento na Serra Gaúcha.
Com a chegada da década de 1980, com a reabertura política e o aprimoramento das discussões sobre arte e cultura, o evento conquistou o status de um dos maiores do gênero no País. Já no início dos anos 1990, com a posse do governo de Fernando Collor, o Brasil presenciou um processo de quase extinção da cinematografia brasileira. Para sobreviver, o Festival se tornou internacional, com uma edição iberoamericana entre 15 e 22 de agosto de 1992. A nova fórmula internacional, inédita no Brasil, foi aprovada, dando novo significado ao evento.
Em sua edição de 40 anos (2012), o Festival se reinventou com um perfil mais democrático e inúmeras mudanças, onde a figura do presidente deixou de existir e as entidades de cinema ganharam maior participação. Outros fatores foram fundamentais para a nova fase, como a volta da exibição dos curtas gaúchos no Palácio dos Festivais e opção de ingressos mais baratos para todas as exibições. Em 2014, a Gramadotur, autarquia municipal responsável pela realização dos eventos públicos de Gramado, passou a estar à frente do evento.
(Marcello Campos)