Terça-feira, 26 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 11 de fevereiro de 2019
O caminhão-tanque chega escoltado por homens fortemente armados em uma área próxima a um manguezal na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. É madrugada e os faróis são direcionados a uma espécie de torneira fixada a um duto. Sob a luz, os homens conectam a válvula à mangueira de sucção do caminhão-tanque, abastecendo-o com combustível roubado. As informações são do portal de notícias UOL.
Nos últimos três anos, ações de quadrilhas especializadas em furtar óleo bruto e derivados diretamente de oleodutos aumentou 262% no país. Os cofres atingidos por perdas milionárias são os da Transpetro, subsidiária da Petrobras que opera uma malha com mais de 7.500 quilômetros de dutos.
Investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro revelam o envolvimento de quadrilhas no esquema ilegal que conta com refinarias para tratar o petróleo roubado.
Além dos prejuízos financeiros, as ações geram danos ao meio ambiente – como o vazamento de óleo que atingiu manguezais e parte da Baía de Guanabara, em dezembro passado, em Magé – e colocam em risco a vida de quem mora próximo às áreas cortadas pelos oleodutos.
De acordo com a promotora Simone Sibílio, do Gaeco, a perfuração de oleodutos para furtar combustíveis em países como Nigéria e México já resultaram em graves acidentes, com explosões e mortes. Em Duque de Caxias (RJ), município da Baixada Fluminense, favelas foram erguidas próximas à rede de oleodutos que abastece a Reduc, principal refinaria da Petrobras na Região Sudeste.
A promotora Simone, do Gaeco, acrescenta que nos últimos dois anos as quadrilhas passaram a atuar com um alto grau de organização e sofisticação.
A atividade ilegal desenvolvida pelas organizações criminosas tem núcleos específicos para cada etapa da operação: perfuração dos dutos, transporte em caminhões tanque, refino e revenda em postos de combustíveis. A reportagem teve acesso a um relatório elaborado pelo Disque-Denúncia com base em relatos sobre a ação desses grupos criminosos na Baixada Fluminense.
Nos últimos dois anos, Caxias ocupou o topo no ranking de denúncias sobre casos de furtos de combustíveis (110 denúncias), além da existência de depósitos clandestinos (51 denúncias) usados pelos paramilitares para armazenar e distribuir o produto roubado.
O diretor do Disque-Denúncia, Zeca Borges, diz que as informações recebidas sobre furto de combustíveis estão relacionadas, em grande parte, à atuação de quadrilhas: “Os furtos geralmente são feitos a partir de desvios dos combustíveis diretamente dos dutos”, ressalta.
Em meio às investigações, os promotores conseguiram reunir provas da participação de um químico, empresários e técnicos em dutos. Duas refinarias regulares chegaram a ser usadas para tratar o óleo bruto desviado dos oleodutos.
Foi o caso da empresa Reoxil Reciclagem Indústria e Comércio de produtos químicos, no bairro Pilar, em Duque de Caxias. Num dos tanques da refinaria, policiais civis e promotores encontraram aproximadamente 30 mil litros de um óleo bruto produzido a partir do Oriente Médio (petróleo árabe leve). O produto foi receptado após ter sido furtado por meio de perfuração do duto da Petrobras.
Durante a operação, quatro caminhões-tanque foram apreendidos numa empresa de transporte também em Caxias. Os tanques estavam carregados com óleo diesel, que uma análise posterior confirmou ter sido produzido a partir do mesmo óleo bruto apreendido no tanque da refinaria.
O grupo mantinha ramificações em Minas Gerais e São Paulo, onde a refinaria CBR Indústria e Comércio de Resinas também dava suporte à operação ilegal. De acordo com a denúncia do MP, “são retirados aproximadamente 14,2 milhões de litros de combustíveis ao ano dos oleodutos da Transpetro para posterior revenda, causando um prejuízo de aproximadamente R$ 33,4 milhões”.
De acordo com a promotora Simone Sibílio, as duas refinarias foram interditadas por determinação da Justiça do Rio e de São Paulo. A reportagem não conseguiu ouvir os responsáveis pelas refinarias.
Apesar de admitir o crescente aumento das ações das quadrilhas, a Transpetro não informa detalhes sobre as áreas mais afetadas, o volume de óleo bruto e derivados furtados, nem das cifras geradas pelas perdas. Em 2016, por exemplo, foram registradas 72 dessas ações. No ano seguinte, o número subiu para 228 furtos e tentativas. Já no ano passado houve novo aumento, chegando a 261 ocorrências de furtos e tentativas, o que representa um crescimento de 262% em comparação com o ano de 2016.
Em nota, a companhia informa ser vítima de ações criminosas de furto de óleo e derivados e afirma colaborar com as autoridades.