É inegável o enorme desconforto em relação ao futuro do trabalho. Qualificações sofisticadas são cada vez mais requisitadas e o risco de desemprego estrutural tira o sono de governos no mundo todo e impactam o futuro social e político do planeta. Se, do ponto de vista governamental, o desemprego massivo e as novas formas de trabalho são suficientemente complexos, do ponto de vista individual, o tamanho do desafio não é menor. Diferente do passado recente, quando o nível de estabilidade era maior, atualmente prevalece a impermanência, ambiente no qual as novas tecnologias reconfiguraram continuamente o contexto, tornando obsoletos conhecimentos já consagrados e colocando um enorme peso sobre os ombros de todos os trabalhadores.
Hoje, é bem menos provável que alguém trabalhe para uma única empresa ao longo da vida. Ao contrário, empregos temporários e novas competências esculpem o novo normal. Diante desse cenário, surgiu uma indústria de novas fontes de aprendizado e de capacitação multivariada, com um cardápio completo para cada uma das situações, sejam elas originadas de carências técnicas, comportamentais e até existenciais. Afora isso, a Internet provê, a um toque dos dedos, a possibilidade de acesso ilimitado ao conhecimento, algo inimaginável até há bem pouco tempo. Entretanto, mais do que atualizar o repertório de competências, a atual dinâmica do trabalho e da vida em sociedade, coloca o planejamento de carreira num patamar estratégico, semelhante às mesmas premissas organizacionais. Empresas e indivíduos, cada qual dentro de sua realidade competitiva, estão tendo que balizar suas decisões não mais em contexto conhecido e seguro, mas dentro de um inédito panorama, conjugando elementos de alta instabilidade, com uma promessa e possibilidade concomitante de almejar mais significado, paixão, propósito, autenticidade e senso comunitário dentro do mesmo diapasão.
Ao tempo em que se torna mais complexo e fatigante garantir um lugar ao sol no mundo do trabalho, novas alternativas se apresentam, especialmente diante de transformações profundas nos modelos laborais. Com os algoritmos ceifando rapidamente empregos com baixa densidade intelectual, cada vez menos alternativas que dependam dos músculos estarão disponíveis, enquanto empregos que requeiram saberes mais elaborados estarão em alta. Nesse contexto, os aspectos emocionais e atitudinais vêm adquirindo maior relevância dentro do estudo das competências individuais. Do mesmo modo que houve o surgimento de novas profissões, numa sociedade predominantemente de serviços, também ocorreu uma mudança significativa na estrutura dos conhecimentos requeridos para essa nova realidade. Mais do que dominar a técnica, o modo certo de realizar determinada função, tarefa ou serviço, o profissional moderno terá que estruturar e posicionar as suas competências em sólidas bases comportamentais. O saber ser, num contexto de altíssima volatilidade, permitirá ao trabalhador do conhecimento, construir, ao modo das estratégias corporativas, seus diferenciais competitivos capazes de lhe gerar vantagem competitiva num mercado implacavelmente exigente. Pressupostos de caráter, atitude proativa e positiva, juntamente com uma forte e inclinação ao aprendizado por toda a vida, serão os alicerces para a empregabilidade do futuro.
Nessa perspectiva, adquire peso ainda maior o condicionamento psicossocial do indivíduo. A postura correta e o entendimento dessas novas regras que já estão moldando o futuro do trabalho, portanto, estão muito mais atreladas a aspectos atitudinais do que normativos. A guerra dos mercados, o gosto multifacetado dos consumidores e uma sociedade pós-moderna em constante fluxo, remetem o trabalhador a um encontro inadiável com a sua emancipação, não mais atrelada somente a um sindicato ou a um guarda-chuva estatal, mas a sua própria capacidade de escolha, diretamente correlacionada com sua resiliência para sobreviver e prosperar nesse mundo mais frágil, ansioso, não linear e cada vez mais incompreensível.
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