Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 11 de fevereiro de 2023
Em “Operação Maré Negra”, Bruno Gagliasso vive João, uma participação especial, porém crucial, na adaptação da história dos três sujeitos que saíram da Amazônia colombiana com 3.600 quilos de cocaína e chegaram à costa atlântica espanhola após atravessarem nove mil quilômetros em um submarino. João é o “escroto”, “que não anda armado mas manda matar com sadismo e sem culpa”. Um capo de olhos azuis, “longe do estereótipo do bandido da favela, sem camisa, negro”.
A segunda temporada da série, com seus cinco episódios disponíveis no Amazon Prime Video, traz o chileno Jorge Lopez (o Valerio, de “Elite”) no lugar do espanhol Alex González como o protagonista Nando. Dois anos depois, o boxeador amador está preso na Europa, assim como o habilidoso Walter, vivido por Leandro Firmino (o Zé Pequeno de “Cidade de Deus”), outro tripulante do navio. Já o João de Gagliasso segue livre na Amazônia.
1) Fazer a série te fez refletir sobre a discussão em torno da legalização das drogas?
Claro, como forma de deter o tráfico. Faz parte do meu trabalho levantar bolas, discutir ideias, para que todos reflitam. O tráfico é o pior dos pesadelos e ele só existe por ser proibido. A série trata de um assunto real e urgente. Se você ler o roteiro sem saber que é inspirado em um fato, acharia que era fantasia. Mas há quatro anos esses caras atravessaram o Atlântico com o submarino que construíram e foram presos. Foi outro dia isso! Em vários países, a discussão das drogas está avançada. O futuro, o caminho natural, é discutir a legalização no Brasil também.
2) Você já definiu o João como um escroto. Não é mais difícil viver um sujeito assim?
Acho lindo meus amigos que vão pra casa e deixam o personagem no set. Não consigo, levo eles comigo. Por isso foi, sim, especialmente difícil fazer “Marighella” (em que vive um torturador) e o João. Mas esta dificuldade, por outro lado, me dá prazer. Eu gosto dela.
3) Como assim?
João começa a segunda temporada de forma sádica, observando a morte de uma mulher em um ato de vingança. E foi uma das cenas que mais senti prazer em fazer. Parece estranho? Ora, todos temos emoções negativas. Não adianta ir contra. Temos ódio dentro da gente, e alegria, raiva, culpa, amor, perversidade, ganância. Uso minhas emoções nos personagens, eles são um pouco eu. Sempre faço figuras polêmicas, é melhor assim. E o João também foi catártico, joguei tudo pra fora com ele.
4) Ele passa longe do estereótipo do traficante brasileiro retratado em produções internacionais…
Sim, sempre o cara da favela, sem camisa, negro. Ué, mas e os vilões que mandam neles? Cadê? O João nem toca numa arma, mas tem caneta, tem poder, manda matar. Pensei, ao construí-lo, naqueles helicópteros pegos com toneladas de cocaína.
5) A Babel de nacionalidades da série ajuda ou atrapalha?
O elenco vem de Espanha, Portugal, Brasil e Chile. Tem legenda sempre, mas muita gente nem lê. Quando se atua com verdade, a palavra é o que menos importa. A verdade está nos gestos, nos olhares. Depois de trabalhar na Espanha, começo a falar português, mudo pro espanhol. Quando vi, voltei e tal, nessa Babel de línguas deliciosa de que você fala. E, claro, abriu-se um outro mercado. Todos ganhamos.