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O futuro, sempre ele

O passar do tempo nos afeta para muito além de simplesmente nos fazer envelhecer. O escorrer das horas vai empilhando aprendizados que nos permitem enxergar o futuro com renovadas lentes, embora também descortine inéditos desafios, muitos deles insinuando que agora será ainda mais diferente do que fora antes. Pitadas de otimismo e pessimismo se intercalam, nem sempre na mesma medida, como é justo esperar de um período de fortes atribulações como esse quase ao final do primeiro quarto de século que estamos vivendo.

Num contexto de tamanhas dúvidas e mudanças, como melhor harmonizar nossas atitudes e propósitos, nossas esperanças e angústias, nossas expectativas e desafios? De que maneira, a partir do nosso comportamento, buscar o melhor, o ajuste adequado entre o que esperamos e o que os outros esperam de nós? Há muitos motivos para que pensemos seriamente sobre o assunto. O Brasil dos últimos anos tem mostrado que, malconduzidos, certos temas podem provocar cisões profundas e um mal-estar generalizado, mesmo entre pessoas mais próximas. Na raiz do problema, afloram a falta de empatia e a ausência de diálogo. Aos poucos, criou-se um abismo entre os brasileiros. Reconstruir tantas pontes, dinamitadas pelo rancor e pela intolerância, exigirá de todos um esforço consciente em busca de uma nova postura, com mais abertura e compreensão, menos dogmatismo e intransigência.

É tempo de mudança e é tempo de novas oportunidades. Ao reavaliar o nosso conjunto de percepções, diante de um novo ciclo que se inaugura, podemos nos motivar a desenvolver mais força e resiliência, para que a navegação num oceano sabidamente revolto ocorra com mais serenidade e sabedoria. Para o marinheiro prudente, o mar é menos ameaçador.

Não existe, contudo, uma receita pronta. O que existe são predisposições que podemos conciliar e reconciliar, combinar e recombinar. Nesse sentido, dentre centenas de virtudes para o bem viver, talvez poucas tenham tanta sintonia com o momento de vivemos como a virtude da bondade, quase que esquecida num mundo que premia a posse, o exibicionismo do corpo e dos bens materiais. Impregnados pelo ódio e pela mentira que circulam à velocidade da luz pelas redes digitais, podemos estar perigosamente nos afastando do bem comum, nos distraindo da essência humana que nos define, e sem esse sentido ético e moral, podemos piorar aquilo que já não está bom.

O egoísmo, por exemplo, a par de ter contribuído como uma força propulsora das inclinações humanas para empreender e gerar riqueza, em seu lado exacerbado e disfuncional, oferece o hiperindividualismo e a insensibilidade social como moedas de troca. Nunca o mundo gerou tanta riqueza sem, contudo, podermos almejar o fim da miséria, do horror das guerras e das ameaças que pairam sobre o planeta.

Somos capazes de coisas maravilhosas e em idêntica medida realizar agendas atrozes, conforme revelam os infortúnios do mundo atual. Entretanto, esse mesmo engenho que foi capaz de enviar o homem à lua, penetrar no átomo e engendrar os milagres tecnológicos que nos rodeiam, terá que ser também capaz de estabelecer limites para si próprio e nem todos esses impasses se encontram solucionados. Princípios humanitários não podem ser peças decorativas a ornar museus, mas uma força viva capaz de garantir ao homem um futuro que ele mesmo delineou como grandioso e que agora, mercê de sua vaidade e soberba, está a ponto de comprometer. Resgatar a virtude da bondade e da boa vontade está na fonte de um futuro melhor para todos nós. Ensinava o estoico Imperador Marco Aurélio: “Cava dentro de ti mesmo profundamente, pois há uma fonte de bondade sempre pronta a fluir se continuares cavando”. Fazer de 2025 um espaço e um tempo para maior generosidade, compaixão e bondade não depende de ninguém, a não ser de nós mesmos e esse contraponto emerge não como um imperativo moral qualquer, mas algo absolutamente fundamental para enfrentar os excessos da moderna sociedade.

(edsonbundchen@hotmail.com)

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