Segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de novembro de 2023
O gabinete do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), se tornou um “porto seguro” para políticos derrotados nas urnas. A relação é de ganha-ganha: como representantes de Pacheco em municípios no interior de Minas Gerais, 16 assessores com histórico político e eleitoral permanecem relevantes em suas bases eleitorais mesmo sem mandato porque conseguem viabilizar recursos para os municípios. Já o senador, que avalia disputar o governo de Minas em 2026, arregimenta “cabos eleitorais” espalhados pelo Estado e recebe o crédito pela autoria das indicações.
Levantamento mostra que, nos meses após as eleições de 2022, Pacheco nomeou quatro candidatos a deputado federal que não conseguiram se eleger e ficaram como suplentes. Entre eles, Júlio Delgado (PV-MG), que teve seis mandatos seguidos na Câmara, e o também ex-deputado Subtenente Gonzaga (PSD-MG), que ficou 12 anos no cargo. Outros contemplados são o primeiro-suplente do PSD, Renato Andrade (MG), e o ex-prefeito de Arcos, em Minas, Denilson Teixeira (PSD-MG).
Também foram identificados seis assessores nomeados para o gabinete de Pacheco que foram derrotados nas eleições de 2020 para prefeito e vereador ou chefes de Executivo que já haviam sido reeleitos e não poderiam disputar o terceiro mandato. Os assessores estão espalhados pelo Estado: desde a capital Belo Horizonte, passando pelas regiões central, oeste de Minas, Vale do Aço, Zona da Mata, sul, sudoeste e Triângulo Mineiro.
A única exceção é a ex-senadora Rose de Freitas (MDBES), que está lotada na presidência do Senado. Os assessores trabalham em regime especial de frequência, o que significa que não precisam bater ponto. Basta que o chefe de gabinete ateste, ao fim do mês, que eles cumpriram a carga horária determinada. Em nota, Pacheco afirmou que todos os servidores têm experiência para exercer as funções (mais informações nesta página).
Prática antiga
A prática de nomear suplentes não é novidade para Pacheco. Logo após assumir a presidência do Senado, em fevereiro de 2021, ele escolheu o atual ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSDMG), então suplente de Antonio Anastasia (PSD-MG), como diretor jurídico da Casa.
Silveira se reuniu com mais de 800 prefeitos mineiros – de um total de 853 – em nome de Pacheco somente em 2021. Minas foi o principal destino dos recursos do orçamento secreto naquele ano. Silveira foi candidato a senador em 2022, mas ficou em segundo lugar.
Após a eleição, o ministro de Minas e Energia foi o único mineiro alçado ao primeiro escalão do governo Lula. Até hoje, políticos do Estado, inclusive petistas, se ressentem da baixa representatividade na Esplanada dos Ministérios. O Estado foi o único onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceu Jair Bolsonaro (PL) fora das regiões Norte e Nordeste.
Um deles é Júlio Delgado. Ele foi convidado por Pacheco para integrar a equipe do gabinete após não ter sido chamado para compor o governo Lula, mesmo tendo feito campanha para o presidente. O ex-deputado considera que foi retaliado pelo PT por ter sido o relator da cassação de José Dirceu, em 2005, e de André Vargas, no início da Lava Jato, em 2014, ambos petistas.
Ponte
Delgado trabalha em duas frentes para Pacheco: na relação com os prefeitos que compõem sua base eleitoral e na representação do senador em eventos institucionais em Minas. “O fato de eu ajudar na ponte com esses municípios pode beneficiar ele em um projeto futuro dele, e que bom que beneficie. Qualquer funcionário tem esse papel. Agora, a mim (não beneficia porque) o meu projeto é ser prefeito de Juiz de Fora”, disse o ex-deputado. O PSD de Pacheco caminha para apoiar a reeleição da atual prefeita da cidade, Margarida Salomão (PT). “E, se eu ganhar a eleição, vou ser base para uma candidatura futura dele, seja ela a qual cargo for”, acrescentou Delgado.