Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 22 de dezembro de 2024
A troca de acenos públicos entre a defesa do general Walter Braga Netto e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) indica que os ex-companheiros de chapa presidencial estão unidos após a prisão do militar pela Polícia Federal por suspeita de envolvimento em uma suposta trama de golpe de Estado. Lideranças de direita e militares cogitaram um cenário em que o STF (Supremo Tribunal Federal) poderia tentar fazer Braga Netto se voltar contra Bolsonaro e eventualmente até se envolver em uma delação premiada – como fez o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, coronel Mauro Cid.
A explicação da defesa de Braga Netto para descartar qualquer hipótese de acordo de delação premiada é que ele não participou de nenhum plano de golpe. “O general Braga Netto é um democrata, não participou de nenhuma reunião golpista”, disse José Luís Oliveira Lima, o novo advogado de Braga Netto.
A hipótese de ruptura entre Braga Netto e Bolsonaro havia surgido de uma declaração do advogado do ex-presidente, Paulo Amador Bueno, no fim de novembro. Ele comentava a suposta apreensão pela Polícia Federal de um documento que estabelecia um “Gabinete Institucional de Gestão de Crise” que seria formado por Braga Netto e por outro general. Bueno usou o argumento de que no nome de Bolsonaro não estava no documento. Sua declaração levantou especulações de que a defesa de Bolsonaro tentaria distanciá-lo de seu núcleo de apoiadores militares.
Outro fato que deu origem a especulações foi a substituição nesta semana do advogado de Braga Netto por José Luís Oliveira Lima, que já defendeu o ex-ministro José Dirceu durante o processo do Mensalão. Na Lava Jato, ele foi o responsável por fechar a delação premiada do empreiteiro Léo Pinheiro, dono da construtora OAS. Oliveira Lima descartou a hipótese de colaboração premiada pelo fato de Braga Netto não ter cometido nenhum crime.
Com a prisão do general, no entanto, Bolsonaro se pronunciou sobre o caso questionando a tese de que Braga Netto estaria obstruindo a Justiça – o que foi entendido como uma sinalização de apoio a Braga Netto. O argumento da PF era que o militar estaria tentando atrapalhar as investigações ao obter informações sobre a delação do coronel Mauro Cid.
“Há mais de 10 dias, o ‘inquérito’ foi concluído pela PF, indiciando 37 pessoas e encaminhado ao MP [Ministério Público]. Como alguém, hoje, pode ser preso por obstruir investigações já concluídas?”, questionou Bolsonaro pelas redes sociais no mesmo sábado (14).
A prisão de Braga Netto foi questionada por especialistas em Direito por se basear em atos antigos, de agosto de 2023 e fevereiro de 2024. Segundo a polícia, naquela época Braga Netto teria demonstrado interesse em saber mais sobre a delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, que resolveu colaborar com as investigações para reduzir sua pena. Por causa disso, foi acusado de tentar atrapalhar as investigações.
Clima de tensão
A prisão de Braga Netto criou um clima de alta tensão nos meios militares, principalmente entre oficiais da reserva, segundo apurou a reportagem.
Há pelo menos duas percepções sobre o caso, segundo afirmaram membros da cúpula das Forças Armadas. Uma delas é que a prisão de Braga Netto seria uma forma de revanchismo do Supremo contra o ex-vice de Bolsonaro. Ou seja, a Justiça estaria manobrando para condenar Braga Netto e sua detenção já seria uma antecipação de pena.
A outra percepção é a comparação com o caso de Mauro Cid, que teria sido pressionado com a prisão para firmar um acordo de delação premiada.
Na época em que o Cid foi preso, uma delação do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro era vista como algo difícil de ocorrer. No entanto, Cid virou peça fundamental nas ações do STF que investigam Bolsonaro, como o caso das joias sauditas e a suposta fraude no cartão de vacinas.
Na última terça-feira (17), o ministro da Defesa, José Múcio, disse que a detenção de Braga Netto “mexe com os militares”. “Estão constrangidos [Exército]. É o primeiro general quatro estrelas que é detido, mas não foi surpresa para ninguém”, disse o ministro. Ele também afirmou que o caso do general não representa as Forças Armadas. As informações são do jornal Gazeta do Povo.