Domingo, 23 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de fevereiro de 2025
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, afirmou em sua delação premiada que, entre as últimas eleições gerais e a posse de Lula, o general Walter Braga Netto pressionou o então presidente a substituir o general Freire Gomes no comando do Exército por um general disposto a dar um golpe para mantê-lo no poder.
Preso preventivamente desde dezembro sob acusação de tentar acessar dados sigilosos da delação do ex-ajudante de ordens, Braga Netto foi, durante o governo Bolsonaro, chefe do Estado Maior do Exército, ministro da Casa Civil e ministro da Defesa, além de candidato a vice-presidente na chapa que perdeu o segundo turno em 2022.
“O general Mario (Fernandes) e até o general Braga Netto falavam com o presidente: ‘tira o general Freire Gomes e coloca ou (o general) Arruda ou (o general) Theophilo, porque eles vão fazer. Eles vão tocar pra fazer alguma coisa’”, relatou Cid, referindo-se à mobilização do Exército depois de um decreto de estado de sítio ou defesa.
Cid deu as declarações em audiência com o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, em 21 de novembro de 2024.
Delação premiada
Em outra frente, o tenente-coronel Mauro Cid revelou em depoimentos à Polícia Federal que o general Walter Braga Netto entrou em contato com seu pai, o general Mauro Cesar Lourena Cid, para obter informações sobre sua delação premiada. A tentativa de interferência nas investigações foi um dos principais argumentos que levaram à prisão de Braga Netto, detido desde 14 de dezembro de 2024.
Segundo Cid, em vídeo liberado pelo ministro Alexandre de Moraes, além de Braga Netto, o advogado Fábio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação de Jair Bolsonaro, também buscou seu pai com o mesmo objetivo. “Não só ele, mas outros intermediários buscaram saber o que eu tinha falado”, declarou o ex-ajudante de ordens.
Ele negou, no entanto, que tenha havido um encontro presencial, alegando que Braga Netto estava no Rio de Janeiro, enquanto seu pai permanecia em Brasília.
A delação de Mauro Cid estava sob sigilo até esta semana, o que impedia qualquer divulgação de seu conteúdo por ele, seus advogados ou familiares. No entanto, o nome de Braga Netto já havia sido mencionado em trechos da colaboração que embasaram a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinando sua prisão.
Além da suspeita de interferência nas investigações, Braga Netto também é acusado de financiar manifestações golpistas. Segundo o ex-ajudante de ordens, o general arrecadou recursos para apoiar aliados radicais de Bolsonaro.
O nome de Braga Netto consta na mesma denúncia criminal que inclui o ex-presidente e outros integrantes do núcleo que teria planejado a tentativa de golpe de Estado.
Em nota, a defesa de Bolsonaro afirma que o ex-presidente “jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam”. Também alegou ter recebido com “estarrecimento e indignação a denúncia da Procuradoria-Geral da República”. As informações são da revista Veja e do portal de notícias Terra.