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O general reformado Mário Fernandes é apontado como peça-chave da Operação Contragolpe

Durante o governo Bolsonaro, Mario Fernandes ocupou o cargo de chefe substituto na secretaria-geral da Presidência da República. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Preso na terça-feira (19) por planejar as mortes de Lula, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes, o general da reserva Mário Fernandes visitou o Palácio do Alvorada, afirmou ter conversado com Jair Bolsonaro e comemorou, em áudio, que o então presidente aceitou o “nosso assessoramento” após o ex-presidente voltar a se manifestar publicamente sobre a eleição de 2022.

Os dados constam da representação feita pela Polícia Federal (PF) ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a prisão do general Fernandes e outras quatro pessoas suspeitas de envolvimento planejamento dos atentados. A PF não cita nenhuma ação de Bolsonaro, e o ex-presidente não foi alvo da operação.

O general reformado Mário Fernandes é apontado como peça-chave da Operação Contragolpe. A Polícia Federal identificou que ele, além de ter sido o autor do arquivo que detalhava a possibilidade de assassinar Lula, Alckmin e Moraes, ele imprimiu o documento no Palácio do Planalto.

A impressão foi feita no dia 9 de novembro de 2022, semanas depois da derrota de Jair Bolsonaro na eleição presidencial, e a cópia foi levada ao Palácio da Alvorada, residência do chefe do Executivo. A impressora usada por Fernandes foi a do gabinete da Secretaria-Geral da Presidência da República. O nome do arquivo impresso era “Planejamento”. Quarenta minutos após a impressão, o general registrou entrada no Alvorada.

No dia seguinte, 9 de novembro, Bolsonaro rompeu o silêncio em que se mantinha desde a derrota para Lula na eleição de outubro e falou com apoiadores em frente ao Alvorada. No discurso, Bolsonaro afirmou que as Forças Armadas eram “o último obstáculo para o socialismo” e ter certeza de que elas estavam “unidas e devem, assim como eu lealdade ao nosso povo, respeito à Constituição”.

O então presidente derrotado disse ainda que iriam vencer, e que tudo daria certo “no momento oportuno.” Em áudio encaminhado a Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, pouco depois, Mario Fernandes comentou o episódio.

“Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. P****, deu a cara para o público dele, para a galera que confia, acredita nele até a morte”.

O general Fernandes afirmou que, na conversa com Bolsonaro, o então presidente lhe disse que qualquer ação poderia acontecer até 31 de dezembro de 2022 – último dia do governo –, mesmo que a diplomação de Lula, prevista para 12 de dezembro, já tivesse ocorrido.

“Mas, p****, aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades”, disse Fernandes para Cid, segundo o documento da PF. Durante o governo Bolsonaro, Fernandes ocupou o cargo de chefe substituto na secretaria-geral da Presidência da República, o que lhe dava, segundo a PF “estreita proximidade com o então presidente Jair Bolsonaro”.

Após deixar o governo, o militar detido ocupou, entre 2023 e o início de 2024, cargo na liderança do PL na Câmara, lotado como assessor do deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ). Fernandes imprimiu novamente o plano de ataque contra as autoridades – chamado de Operação Punhal Verde e Amarelo – na mesma impressora, no dia 6 de dezembro de 2022, às 18h09.

Segundo a PF, enquanto ele imprimia o arquivo, os aparelhos do “kid preto” Rafael Martins de Oliveira, lotado no Batalhão de Ações e Comando, e do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, estavam conectados na rede de internet do Planalto. Oliveira também foi preso.

Ainda de acordo com os investigadores, nesse mesmo horário, Bolsonaro estava no Planalto. A PF chegou a tal informação por meio da análise de um grupo que Cid mantinha em seu celular chamado “Acompanhamento”, sobre a rotina do então presidente. Naquele dia, conforme as informações desse grupo, Bolsonaro acompanhou a posse de ministros no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e, às 17h56, foi para o Planalto. Lá ficou por 35 minutos e então se dirigiu para a residência presidencial.

De acordo com as investigações, Fernandes tinha também relação integrantes dos movimentos golpistas, como os caminhoneiros que estavam acampados em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília.

“O contexto das mensagens evidencia que Mário Fernandes era o ponto focal do governo de Jair Bolsonaro com os manifestantes golpistas”, diz a PF.

A PF cita que, após o encontro com Bolsonaro, Fernandes pediu a Mauro Cid para que o então ajudante de ordens pedisse ao presidente para atuar para evitar a apreensão de caminhões em frente ao QG do Exército por ordem da Justiça.

“Então isso seria importante, se o presidente pudesse dar um input ali para o Ministério da Justiça para segurar a PF ou para a Defesa alertar o CMP [Comando Militar do Planalto], e, porra, não deixa”, disse Fernandes.

Em resposta, Cid se comprometeu a falar com Bolsonaro sobre o assunto.

 

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