Notório antecipador de tendências para o Oscar, o Globo de Ouro animou a noite de domingo com a sua premiação – que privilegiou os filmes Era uma vez… em Hollywood, de Quentin Tarantino, e 1917, de Sam Mendes – e as piadas do apresentador Ricky Gervais – muitas vezes incômodas para as celebridades presentes.
Em sua 77ª edição, a cerimônia em que foram anunciados os vencedores (escolhidos pelos integrantes da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood) em várias categorias de cinema e TV não deixou de ter a sua dose de surpresa – para o bem e para o mal. Os vitoriosos, os esnobados, os discursos políticos, as pequenas e grandes deselegâncias, nada do que aconteceu no festa no Hotel Beverly Hilton, em Beverly Hills, passou sem ser notado. A seguir, um balanço do Globo de Ouro 2020.
Altos
Outras cinematografias
Ao receber o prêmio de melhor filme em língua estrangeira por Parasita, uma unanimidade nas listas de grandes filmes do ano, o diretor sul-coreano Bong Joon-ho fez o agradecimento mais sucinto e direto ao ponto da festa: “Depois de superar a barreira de uma polegada de altura das legendas, você será apresentado a muitos outros filmes incríveis.”
Momentos políticos
As atrizes Patricia Arquette e Michelle Williams decidiram usar seus discursos para defender seus pontos de vista sobre o mundo. Williams, que levou o prêmio de melhor atriz por minissérie ou telefilme por Fosse/Verdon, advogou pelo direito ao aborto (“Mulheres, de 18 a 118 anos, na hora de votar, façam isso por seu próprio interesse. É o que os homens fazem há anos”). E Arquette, premiada como atriz coadjuvante em série, minissérie ou telefilme (por The act), aproveitou para lembrar a situação do Irã: “Quando olharmos nos livros de história não vamos encontrar esta noite, o que vai estar lá é que o país estava à beira da guerra. Temos de votar em 2020.”
“Alá é grande”
Americano filho de egípcios, o comediante Ramy Youssef recebeu o prêmio de melhor ator de comédia pela série Ramy, baseada em sua própria experiência como um millennial muçulmano. Em seu discurso de agradecimento, ele brincou dizendo que ninguém no teatro havia visto sua série e que até a sua mãe queria que Michael Douglas (concorrendo por O método Kominsky) ganhasse, porque “os egípcios amam Michael Douglas”.
Fora do armário
Ao apresentar Ellen DeGeneres como a vencedora do Prêmio Carol Burnett, a também comediante Kate McKinnon agradeceu à antecessora por sua coragem em sair do armário anos atrás, para que um jovem McKinnon pudesse vê-la como um modelo: “Será que eu sou … gay? Era o que eu me perguntava. Eu era… e ainda sou!”. Um momento de grande emoção em que as duas tentaram não chorar.
A hora das asiáticas
Awkwafina (ou melhor, a atriz e comediante Nora Lum) tornou-se a primeira mulher de origem asiática a ganhar um Globo de Ouro de atriz, por The farewell. Até o ano passado, nenhuma delas havia sido sequer indicada na categoria, uma sequência finalmente quebrada quando Constance Wu recebeu uma indicação por sua atuação em Podres de ricos, de 2018.
Mulheres e música
Vencedora do prêmio de melhor trilha sonora original (por Coringa), a islandesa Hildur Guðnadóttir se tornou a primeira mulher a ganhar sozinha nessa categoria (em 2000, Lisa Gerard também foi premiada, mas pela trilha que fizera com Hans Zimmer para Gladiador).
Ausência justificada
Ganhador do prêmio de melhor ator em minissérie por The loudest voice, o australiano Russell Crowe não compareceu à cerimônia alegando estar ajudando a combater os incêndios que têm devastado a flora e a fauna em seu país.
Sobrancelhas salvadoras
Ao ganhar seu primeiro Globo de Ouro por seu trabalho na série Chernobyl, o ator sueco Stellan Skarsgard lembrou do que lhe dissera certa vez o falecido diretor tcheco Milos Forman: “Stellan, eu já vi tantos filmes com você, mas nunca me lembro do seu rosto”. “Percebi que era porque eu não tenho sobrancelhas. Ninguém pode dizer se estou com raiva ou surpreso”, explicou o ator, antes de agradecer ao maquiador de Chernobyl, Daniel Parker, que fez duas sobrancelhas para ele na série.
Baixos
O grande esnobado
A Netflix conseguiu emplacar apenas uma vitória entre suas 17 indicações nos prêmios para cinema (Laura Dern como melhor atriz coadjuvante em História de um casamento) e uma entre as outras 17 nos para TV (Olivia Colman para The Crown). Mesmo a celebrada produção da plataforma de streaming O irlandês, de Martin Scorsese (que além do diretor, tinha os superatores Al Pacino e Joe Pesci entre os indicados) foi incapaz de ganhar algum prêmio.
E sobrou pra a Disney
Com os três filmes de animação com maior bilheteria do ano — O Rei Leão, Frozen 2 e Toy Story 4 — no páreo, a Disney deveria estar bastante confiante em conseguir o Globo de Ouro de melhor filme de animação. Mas quem ganhou foi Link perdido, da Laika Entertainment, empresa especialista em stop motion que produziu Coraline e Os Boxtrolls.
Mau conselho
Com certa arrogância, o apresentador Ricky Gervais deu um recado duro à plateia estrelada do Globo de Ouro: “Ninguém mais se importa com filmes. Se você ganhar um prêmio hoje à noite, não o use como plataforma para fazer um discurso político. Você não está em posição de dar palestras ao público sobre qualquer coisa. Você não sabe nada sobre o mundo real.”
Ego fluindo
Com três Globos de Ouro por seu Era uma vez… em Hollywood — um para o ator Brad Pitt, um para seu roteiro e um para melhor filme na categoria de comédia/musical — Quentin Tarantino não resistiu a deixar o ego fluir. Ele disse que, como roteirista do filme, não precisava agradecer a mais ninguém que não a si mesmo. “Mas desta vez, mais do que nas outras vezes, eu tenho um elenco fantástico, que adicionou camadas um pouco diferente das que estavam na páginas”, disse ele, aparentemente tentando consertar.
Atrasildos
Além de chegarem tarde à cerimônia do Globo de Ouro, o casal estrelado Beyoncé e Jay-Z ainda deixaram a internet louca, com algumas pessoas especulando que o guarda-costas estaria segurando garrafas de bebida para eles.