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Política O governo acertou ou errou ao recuar na crise do Pix? Especialistas divergem

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Uma pesquisa apontou que 67% da população ainda acredita que o governo possa cobrar impostos sobre a modalidade de transferência. (Foto: Reprodução)

Na semana passada, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, foi a público defender em vídeo a decisão do governo de revogar a portaria da Receita Federal que aumentaria a fiscalização nas transações via Pix. O ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), e o ex-líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu, externaram o oposto: acharam errado o Planalto voltar atrás na medida após o vídeo viral de milhões de visualizações do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).

O assunto divide não só a base aliada do presidente Lula, mas estrategistas de campanha, especialistas em comunicação digital e donos de institutos de pesquisa. O jornal O Globo ouviu dez profissionais relevantes dessas áreas e encontrou as mais variadas opiniões sobre os fatos da semana passada, que geraram uma das maiores crises enfrentadas pelo governo do PT até agora.

Paulo Vasconcelos e Renato Pereira, adversários no Rio em 2022 ao coordenar, respectivamente, as campanhas do governador Cláudio Castro (PL) e do ex-deputado federal Marcelo Freixo (PSB), discordam sobre a tática utilizada pelo governo, mas têm um ponto em comum: ambos consideram que o deputado Nikolas não disse mentiras no seu vídeo e que as falas do parlamentar estiveram ancoradas apenas em argumentos legítimos.

“Não houve fake news, mas sim o exagero comum às narrativas políticas. E em qual mundo isso aconteceu? No mundo do Lula. Da empregada doméstica, do lavador de carro, do encanador, ou seja, toda a turma que vive do Pix tomou um susto após o alerta do Nikolas. E aí ele ganhou em credibilidade, o que é muito ruim para a esquerda. O recuo não deveria ter acontecido do jeito que aconteceu. Lula tinha que ter mandado alguém embora, ele precisa parar de matar no peito as coisas”, diz Paulo Vasconcelos.

Renato Pereira afirma que “o governo acertou em revogar a medida, mas não reverteu o desastre”:

“A revogação, na verdade, sinaliza que não era fake news. Ninguém estava dizendo que o governo ia taxar diretamente o Pix das pessoas. O governo ia usar o Pix para monitorar as movimentações financeiras dos contribuintes e, com base nisso, passaria a cobrar mais imposto. Portanto, o Pix ia ser usado para taxar os brasileiros, sim.”

Mario Rosa, gestor de crise que trabalhou na campanha do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, com o marqueteiro Duda Lima, que orientou o PL na crise do Pix, também acha que o governo fez o certo.Em momentos como esse, não há o bom e o ruim. Há o ruim e o pior. Recuar estancou a crise.”

Quem mexe com pesquisas eleitorais ficou impressionado com os dados da Quaest na última sexta-feira, que apontaram que 67% da população ainda acredita que o governo possa cobrar impostos sobre a modalidade de transferência.

“O governo acertou ao reduzir o dano. Não é que o brasileiro achou que seria criado um novo imposto. Ele achou, corretamente, que o governo estava entregando uma lupa para o Leão. E aí esses profissionais que hoje são MEI (microempreendedor individual) não gostaram da notícia de que seriam melhor fiscalizados. Eles se sentiram mais vulneráveis às investigações da Receita”, afirma Antonio Lavareda, do Ipespe.

Marcia Cavallari, CEO do Ipec, complementa:O problema é que, independentemente da forma, a medida já está contaminada com uma imagem negativa do governo junto à população brasileira.”

O CEO do AtlasIntel, Andrei Roman, e o dono do instituto Locomotiva, Renato Meirelles, vão por outro caminho: acham que o Planalto errou no recuo.O governo deixou na mão os defensores das medidas e ofereceu munição para que a oposição saísse como vitoriosa. Foi pouco inteligente”, pontua Meirelles.

Roman entende que, da forma como o recuo foi anunciado, o governo inflamou ainda mais a situação.O secretário da Receita Federal (Robinson Barreirinhas) disse que uma batalha foi perdida, mas a guerra continua. Que guerra é essa? Não ficou claro. O governo quer combater golpes e fraudes fiscais em cima de um limite fiscal tão baixo de movimentações de R$ 5 mil?”, questiona.

Duas das maiores empresas brasileiras de monitoramento dos fluxos de informação na internet também têm os seus diretores com opiniões divergentes.Entendo que a decisão de recuar entrega nas mãos da oposição uma vitória que poderia ter sido evitada. A melhor maneira de enfrentar esse movimento seria entender a nova dinâmica da opinião pública e levar a informação aonde está a audiência, independente do canal, veículo ou plataforma”, defende Manoel Fernandes, da Bites.

Pedro Bruzzi, da Arquimedes, diz que “a decisão foi correta, pois a crise tomou proporções maiores e há um contexto de quebra de confiança do governo neste tema”:

“No caso da taxação de compras internacionais, Lula e (o ministro da Fazenda) Fernando Haddad falaram que não haveria, e aconteceu. No fim do ano, o governo prometeu isenção de R$ 5 mil e não passou daquilo, nada aconteceu até agora.”

Nas redes sociais, quatro temas vêm afetando a popularidade do governo nas últimas semanas, três deles ligados à economia e um, surpreendentemente, à educação, afirma Marcos Carvalho, da AM4, responsável pela campanha de Jair Bolsonaro ao Planalto em 2018: Pix, inflação, gastos públicos e a proibição de celulares nas escolas.

“A medida trouxe grande desgaste em grande parte da população, sobretudo entre os mais jovens”, diz Carvalho sobre um assunto até agora pouco abordado. “Embora a medida tenha tido apoio de parte da população, o desafio está na implementação.” As informações são do jornal O Globo.

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