A aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara dos Deputados, antes do recesso, animou o mercado, mas nada a ponto de mudar o pessimismo dos analistas a curto prazo. As expectativas para a economia escancaram as dificuldades do governo em manter a popularidade. A última pesquisa do Datafolha, em julho, aponta que 33% da população considera o governo como ótimo ou bom, o menor patamar dos presidentes em início de mandato.
Bolsonaro continua prestigiado apenas pela base eleitoral que se mantém fiel a ele. Os votos “antipetistas” captados no segundo turno das eleições, entretanto, não se mantiveram. E Bolsonaro não tem se empenhado em reconquistar essa fatia perdida do eleitorado. Nas últimas três semanas, reforçou a aproximação com as bancadas evangélica e ruralista – fiéis a ele desde o segundo turno das eleições –, em um processo que, politicamente, se mostra incapaz de dar respostas à economia.
O governo busca mais articulação no Congresso, mas, na prática, o presidente continua pregando só para aliados. Prestigiou ruralistas na solenidade alusiva aos 200 dias de governo e se mantém próximo dos evangélicos, a ponto de ter ido a um culto na sede internacional da Sara Nossa Terra, em Brasília. Movimentos que intensificam as costuras feitas com esses dois grupos em cafés da manhã no Planalto e fora da agenda oficial, além de um culto na Câmara.
O problema, alertam aliados de dentro e fora desses dois grupos, é que as amarrações políticas construídas por Bolsonaro não pacificam a relação com as lideranças partidárias. A costura do Executivo com ruralistas e evangélicos mapeia lideranças do Centrão – bloco político composto por PP, PRB e PL – para compor com a articulação governista. Mas, até o momento, tudo está no campo das conversas e nenhuma postura mais enfática foi adotada para dar poderes a novos interlocutores que possam fazer esse arranjo.
Ao não expandir os interlocutores e continuar ouvindo apenas os fiéis mais próximos, Bolsonaro mantém a articulação estagnada, como durante a votação da reforma da Previdência, conduzida pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). E nada disso é positivo para a economia. A reforma tributária desenhada pela equipe econômica, por exemplo, sequer vem sendo discutida abertamente com as lideranças partidárias. “Nenhum líder foi convidado para conhecer a reforma do governo”, critica o líder do Podemos na Câmara, José Nelto (GO).
O Podemos é o partido que apresentou destaque à reforma da Previdência para prever aposentadoria especial para policiais. A emenda foi aprovada por 467 votos, em uma costura capitaneada por Nelto e outros líderes. Ouvir lideranças e suas respectivas bancadas é, para ele, algo que o governo deveria também ter adotado em relação à agenda econômica.
“O governo está preso às redes sociais e às polêmicas ideológicas. Mas economia não se faz com isso. Seja de esquerda ou de direita, ideologia que não gera empregos está fadada ao fracasso. Bolsonaro deveria aproveitar o recesso parlamentar e chamar os líderes para discutir o que planeja. Ganharia tempo”, pondera o parlamentar.
Por ora, o governo sinaliza como prioridades para estimular a economia um modelo de saques anuais do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), pondo fim ao saque automático nas demissões sem justa causa. Bolsonaro disse que os pequenos acertos dessa medida serão feitos nesta semana com a equipe econômica. As informações são do Correio Braziliense.