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Por Redação O Sul | 30 de maio de 2019
O governo da Venezuela admitiu na terça-feira (28) o estado devastador de sua economia ao publicar inesperadamente dados que revelam uma inflação de 130.060% em 2018. A primeira divulgação de indicadores pelo Banco Central do país em três anos também demonstra que a economia venezuelana se contraiu aproximadamente pela metade desde que Maduro assumiu o poder. As informações são do jornal O Globo e de agências internacionais de notícias.
O índice divulgado aponta para um grande aumento no custo de vida, mas ainda muito abaixo das estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo o órgão, os preços aumentaram quase 1.000.000% no país latino-americano em 2018. A estimativa do FMI é baseada em dados orçamentários do governo, da Previdência, de estatais e de instituições bancárias venezuelanas, entre outros indicadores. Consultado, o FMI disse ao GLOBO que a dificuldade de acesso a informações oficiais de Caracas impede uma análise mais precisa.
Para os anos anteriores, os números da inflação do Banco Central Venezuelano (BCV) não diferem tanto dos do FMI. Em 2016, segundo o BCV, a inflação chegou a 274,4%; em 2017, atingiu 862,6%. Para os primeiros quatro meses de 2019, as estimativas de inflação divulgadas por Caracas são inferiores aos números previstos pela Assembleia Nacional, controlada pela oposição. Enquanto a inflação oficial é calculada em 666%, os números coletados pelo Legislativo indicam 1.047%.
Segundo a BBC, a divulgação dos indicadores após cerca de quatro anos de silêncio pode significar que Maduro deseja pedir assistência financeira internacional — auxílio que demanda a contabilidade. Também especula-se que os dados possam ter sido publicados por funcionários do BCV contrários ao governo. Já a Bloomberg afirma que a Venezuela, que vinha sendo ameaçada de sanções pelo FMI por não entregar seus dados oficiais, já havia compartilhado as informações com o Fundo no final de 2018.
As informações sistematicamente ocultadas foram publicadas no site do BCV e também mostram uma queda de 47,6% do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2013, quando Nicolás Maduro assumiu a Presidência do país, e o terceiro bimestre de 2018. A queda do PIB foi de 18,6% em 2017. Entre setembro de 2017 e setembro de 2018, o valor de todos os bens e serviços produzidos no país caiu 19,2%. Os números do PIB entre 2013 e 2018 divulgados pelo Banco Central coincidem, grosso modo, com os do FMI.
Os dados do Banco Central confirmam a destruição da economia, uma das maiores já enfrentadas por qualquer país que não tenha passado por uma guerra. O PIB do setor de construção caiu 95% entre o terceiro trimestre de 2013 e o terceiro trimestre de 2018. A queda registrada pela produção industrial foi de 76%, enquanto as atividades comerciais e bancárias registraram contração de 79%. Os números apontam uma piora significativa a partir dos últimos meses de 2018.
O valor das exportações petrolíferas, fonte de 96% da renda do país, despencou para US$ 29,810 bilhões em 2018. Em comparação, a atividade rendeu US$ 85,603 bilhões em 2013 e US$ 71,732 bilhões em 2014, quando os preços do petróleo despencaram e a crise econômica se agravou na Venezuela.
Desde 2016, o preço internacional do barril voltou a aumentar, mas uma queda abrupta na produção de petróleo dificultou a recuperação das exportações venezuelanas. De acordo com dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), a produção diária de 3,2 milhões de barris caiu para 1 milhão em abril deste ano, depois que sanções americanas proibiram, em fevereiro, que empresas sediadas nos Estados Unidos comprem petróleo da Venezuela. Fontes secundárias apontam uma quantidade ainda menor, de 768.000 barris.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a grave crise que o país enfrenta já forçou mais de 3 milhões de venezuelanos a fugir do país desde 2015. A estatística foi divulgada pela ONU em meio ao acirramento das tensões políticas entre Nicolás Maduro e Juan Guaidó, líder opositor que preside a Assembleia Nacional venezuelana, se autodeclarou presidente interino e é reconhecido por mais de 50 países.
Maduro, que chegou ao poder em 2013 como sucessor político do falecido presidente Hugo Chávez, culpa as sanções impostas pelos Estados Unidos pelo colapso da economia de seu país. As restrições econômicas aumentaram desde o início do ano, quando Washington declarou apoio a Guaidó. Há duas semanas, os dois lados iniciaram negociações mediadas pela Noruega, em uma tentativa de romper o impasse.
Para Henkel García, diretor de uma consultoria econômica, os dados do BCV confirmam, entretanto, “que a maior parte da destruição econômica aconteceu muito antes das sanções”. A dependência do petróleo, decisões administrativas equivocadas e a má administração econômica sob Maduro e Chávez levaram à inflação descontrolada, expulsaram investimentos e deixaram o país sem opções. As sanções americanas, com o objetivo de derrubar Maduro, agravaram a crise, tornando mais difícil para a Venezuela importar todos os bens, incluindo alimentos e medicamentos.