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O governo do Paraguai vem fechando o cerco à expansão das facções criminosas brasileiras, em meio a uma guerra pelo controle do tráfico na fronteira

O traficante Marcelo Piloto quando estava sob custódia da polícia paraguaia. (Foto: Reprodução)

O governo do Paraguai vem fechando o cerco à expansão das facções criminosas brasileiras, em meio a uma guerra pelo controle do tráfico na fronteira, que opõe há três anos o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho), além de bandidos da região. No ano passado, o país vizinho extraditou 97 presos brasileiros, 60% a mais que os 59 mandados de volta em 2017, conforme dados oficiais. Autoridades paraguaias também investigam suspeitas de suborno a policiais para ajudar traficantes.

Desde dezembro, um programa de cooperação entre os dois países faz com que criminosos presos após cruzar a fronteira sejam rapidamente devolvidos. No ano passado, foram extraditados alguns dos principais chefes do crime organizado, como Jarvis Chimenez Pavão, do PCC, Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o Piloto do CV.

De janeiro até o início deste mês, foram mais 15 expulsões, incluindo Fábio Souza Santos, o Geleia, também do CV. Em três anos, o Paraguai passou do 5.º para o 2.º lugar em número de presos brasileiros no exterior, passando Japão, Portugal e Espanha. Agora, está atrás apenas dos Estados Unidos.

Diretor de investigação da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai, Gustavo Molina afirma que as facções brasileiras tentam aumentar a influência nos meios criminais locais. “São investigadas até suspeitas de envolvimento de membros da Polícia Nacional com esses grupos.”

Ele destaca que os traficantes usam seu poderio econômico para subornar policiais e cooptar mão de obra nos presídios. Conforme Molina, as drogas estão na origem de 80% das prisões. Pelo menos cinco facções brasileiras tentam estabelecer bases no Paraguai: CV e PCC, o PGC (Primeiro Grupo Catarinense), a FDN (Família do Norte) e o TCP (Terceiro Comando Puro).

Conforme o diretor, com a instalação de uma base de inteligência da Polícia Federal brasileira na Senad em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil, a cooperação entre os países aumentou. “Há um trabalho conjunto.” A troca de informações e as ações já levaram os grupos criminosos a reagirem. Em novembro, o CV ameaçou de morte a procuradora-geral do país, Sandra Quiñonez.

Ao jornal O Estado de S. Paulo, a procuradora-geral disse que o endurecimento nas ações brasileiras contra as facções têm levado os bandidos a buscarem outros países onde possam atuar com menos pressão. Em entrevista ao jornal New York Times em novembro, Piloto afirmou que o Paraguai é a “terra da impunidade”.

Segundo o secretário de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul, Antonio Videira, o regime prisional mais brando e a facilidade para cooptar agentes públicos estimulam a migração. Evidências de corrupção levaram o governo paraguaio a trocar duas vezes o comando da Grupamento Especializado de Assunção, principal presídio do país, no fim do ano.

Sandra, porém, disse que o Paraguai tem trabalhado “sem trégua” para deixar de ser uma boa opção para os bandidos.

Guerra

Para Videira, a disputa deve se acirrar, após a prisão do principal articulador do PCC no Paraguai – Sergio Quintiano Neto, o Minotauro, detido em um apartamento de luxo de Balneário Camboriú (SC), no dia 4. Na semana seguinte, houve a transferência de Marco Williams Herbas Camacho, o Marcola, e de outros 21 líderes do PCC de São Paulo para presídios federais.

A entrada das facções no país vizinho aumentou após a execução de Jorge Toumani Rafaat, em junho de 2016. De sua mansão em Pedro Juan, ele controlava com mão de ferro o tráfico na fronteira, respeitando os negócios de outros grupos, e abastecendo indistintamente várias facções, incluindo PCC e CV. Segundo Videira, com 29 anos de polícia (25 deles na fronteira), a morte de Rafaat pelas mãos do PCC iniciou uma guerra. “O PCC foi mais rápido em ocupar os espaços e cresceu.” Até ser preso este mês, Minotauro ainda trabalhava na expansão dos negócios, avançando sobre campos de maconha de outras facções e atacando rivais.

No processo, Mato Grosso do Sul passou a receber maiores carregamentos de maconha, e deixou de ser apenas rota, para virar também mercado consumidor. “O estilo é o da máfia, uma vingança puxa outra”, diz Videira. Hoje, o PCC controla o tráfico em Pedro Juan, Capitán Bado e Ciudad del Este, enquanto o CV domina as regiões paraguaias de Salto del Guairá, Ypehú e o distrito de Zanga Pyitã. Segundo Videira, há até erva transgênica. “O compromisso é colocar no Brasil 6 toneladas de maconha por semana”, diz.

 

 

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