Sexta-feira, 07 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de agosto de 2018
O governo federal anunciou na terça-feira (21) que mais de mil venezuelanos que estão no Estado de Roraima serão distribuídos por cidades de outros Estados do Brasil, após os incidentes envolvendo imigrantes na cidade de Pacaraima.
Em declarações em Boa Vista, Viviane Esse, representante da Casa Civil, explicou que o “processo de interiorização” dos imigrantes venezuelanos começará no final de agosto, sem precisar as cidades de destino. Ela disse que “há vagas” em Estados do Sul.
“Agora a gente vai levar para abrigos privados, que são alugados nos Estados, temos várias vagas já nos Estados da região Sul. Levaremos essas pessoas, o Exército fornecerá alimentos, a gestão será da ONU [Organização das Nações Unidas], que também pagará o aluguel, e a gente vai inseri-los no mercado de trabalho”, explicou.
Viviane integrou a comissão interministerial que visitou na terça-feira Pacaraima, onde no sábado moradores locais atacaram refugiados venezuelanos. Enquanto a comissão visitava instalações de acolhida, situadas a poucos metros da fronteira, venezuelanos continuavam entrando no Brasil, a pé ou de automóvel.
Muitos imigrantes que fugiram do Brasil após os incidentes em Pacaraima acabaram voltando a Roraima. “Tenho quatro filhos na Venezuela. Me faltam cinco dedos no pé esquerdo. Vim ao Brasil para dar um futuro para os meus filhos, e não para roubar. Os agressores não se importaram com a minha perna doente, tive que correr”, revelou o caminhoneiro Miguel Ángel García, 38 anos.
Passado o perigo, García decidiu voltar e empreender, pela segunda vez, a peregrinação para obter sua caderneta de vacinas e o protocolo de pedido de refúgio, indispensáveis para uma nova vida no Brasil. “Queimaram toda a minha roupa, minha barraca, tudo. Estou dormindo ao relento”, disse o caminhoneiro.
Desde o início deste ano, 820 venezuelanos foram transferidos para outras cidades do Brasil, incluindo São Paulo (SP) e Manaus (AM), como parte do plano do governo para desafogar Roraima. Após os ataques de sábado em Pacaraima, deflagrados por uma suposta agressão a um comerciante local por assaltantes venezuelanos, cerca de 1.200 imigrantes retornaram ao seu país.
Desde então, é tensa a situação nas ruas da cidade de 12 mil habitantes, vizinha à venezuelana Santa Elena de Uairén. Na terça-feira, chegaram à região 60 dos 120 homens da Força Nacional enviados pelo governo federal.
Grávidas
Venezuelanas grávidas estão deixando o seu país devido à falta de cuidados pré-natais, remédios e fraldas e cruzando a fronteira com o Brasil para ter o seus bebês. A estimativa é de que três bebês venezuelanos nasçam no Estado de Roraima a cada dia.
“Meu bebê teria morrido se eu tivesse ficado. Não havia comida, remédios ou médicos”, afirmou Maria Teresa Lopez enquanto alimentava a filha Fabiola, nascida na noite de segunda-feira (20) em uma maternidade em Boa Vista.
Maria, de 20 anos, pegou carona por 800 km de sua casa no delta do rio Orinoco até a fronteira com o Brasil, há cinco meses. Ela é uma dos centenas de milhares de venezuelanos que estão fugindo da crise econômica, política e humanitária.
O fluxo de venezuelanos sobrecarregou os serviços públicos em Roraima, levando a um aumento de crimes, da prostituição, de doenças e de incidentes de xenofobia.