Ao comentar a digitalização de brasileiros durante a pandemia de covid-19, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o governo deve abrir o capital (IPO, da sigla em inglês) do braço digital da Caixa Econômica Federal “nos próximos seis meses”.
O banco foi o responsável pela operacionalização do pagamento do auxílio emergencial, sendo necessário abrir milhões de contas bancárias para os beneficiários receberem os depósitos.
“O Brasil é uma democracia digital. Na pandemia digitalizamos 64 milhões de pessoas. Quanto vale um banco que tem 64 milhões de pessoas que foram bancarizadas pela primeira vez e serão leais pelo resto da vida? Estamos planejando um IPO deste banco digital nos próximos seis meses”, disse Guedes, ao participar de transmissão ao vivo com investidores.
Os pagamentos foram feitos por meio do aplicativo Caixa Tem. O banco não tem um braço digital formalmente segregado das operações. Caso o governo decida abrir o capital apenas dessa parte, terá que fazer a cisão das operações.
O banco enfrentou problemas de tecnologia para atender aos beneficiários do auxílio emergencial e saque do FGTS, uma vez que foram criadas “filas digitais” para o atendimento, algo pouco usual em meios digitais.
No mês passado, o banco suspendeu mais uma vez o IPO da Caixa Seguridade, que deve ocorrer somente no próximo ano. A área de cartões da instituição financeira também deve ter o capital aberto em 2021.
De acordo com fonte do governo, o plano é fazer o IPO da Caixa Seguridade e do banco digital. A holding não terá o capital aberto, disse essa fonte.
Segundo fontes da Caixa, a criação do braço digital do banco é um projeto que vem sendo trabalhado para o período pós pandemia e a expectativa é criar a subsidiária e abrir o capital até o dezembro de 2021. Com o pagamento do auxílio emergencial, do saque do FGTS, além do benefício pago pelo governo para ajudar a manter os empregos, a Caixa deverá atingir a marca de 100 milhões de contas digitais. Esse é o maior banco digital do mundo, disse uma fonte da instituição.
Para agregar valores ao banco digital, a Caixa montou uma estratégia a fim de oferecer vários produtos pelo aplicativo. Um exemplo é a contratação de financiamento habitacional, desde o início desta semana.
Durante o evento, Guedes disse também que investidores internacionais deveriam manter ativos no País, aguardando efeitos das reformas econômicas que o governo promete dar seguimento em 2021.
“Será um grande erro não investir no Brasil”, afirmou.
Cliente de baixa renda
Leo Monteiro, analista da Ativa Investimentos, avalia que a abertura de capital do braço digital da Caixa pode representar um movimento para destravar valor e ajudar na parte fiscal e na agenda de privatizações do governo, embora o ministro não tenha falado em venda de controle.
“Para ter uma ideia, o Nubank, com mais de 25 milhões de clientes, já foi avaliado em US$ 10 bilhões. Na Caixa, os 66 milhões que receberam algum tipo de auxílio na pandemia podem se tornar uma base valiosa para um possível IPO.”
Monteiro acrescenta que, do ponto de vista comercial, não avalia que a medida tenha impacto relevante nos grandes bancos:
“O braço digital da Caixa seria muito mais focado no cliente de baixa renda e micro e pequenas empresas, oferecendo produtos e serviços que não competiriam diretamente com os oferecidos pelos grandes bancos.”
O analista destaca que o ambiente mais competitivo representa os desafios para o setor bancário.
“Se por um lado o aumento da bancarização é positivo para todo o setor financeiro, por outro, a maior competitividade e medidas de modernização financeira, como o Pix, tendem a pressionar os spreads bancários, bem como a cobrança de taxas e tarifas”, conclui.
Após dizer que é uma boa hora para vir para o Brasil, ressaltar que o governo não abandonará o teto de gastos, e que o Executivo segue empenhando em sua agenda de modernização de marcos regulatórios, Guedes disse que não será despedido nos próximos meses.
O ministro disse considerar natural o ambiente de uma taxa de câmbio mais alta enquanto as taxas de juros brasileiras passaram para um patamar mais baixo, e contou que o governo prepara um mecanismo de proteção cambial para investidores de longo prazo. O ministro foi questionado especificamente sobre esse problema, quando disse que, após um ano e meio fazendo “dever de casa”, iniciará roadshows para atrair investimentos.