Domingo, 12 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de agosto de 2020
O governo federal quer propor um novo adiamento do Censo Demográfico, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2021 para 2022. A pesquisa, prevista para este ano, já foi adiada em razão da pandemia do novo coronavírus.
A proposta se dá na discussão sobre a elaboração do orçamento da União de 2021. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, os recursos previstos para o censo de 2021 seriam redirecionados para o Ministério da Defesa.
Fontes ouvidas pelo blog dizem que o novo adiamento ocorreria por dificuldades trazidas pela pandemia, e os cerca de R$ 2,3 bilhões de orçamento poderiam ser diluídos em outras áreas, inclusive a Defesa, segundo essas fontes.
“Mais estratégico”
Ex-presidente do IBGE, Roberto Olinto diz que será um “escândalo inaceitável” se o governo decidir em adiar o Censo para 2022 para irrigar recursos ao Ministério da Defesa. Para ele, o risco de fazer a pesquisa em ano de eleição é usá-la para fazer propaganda do governo.
“Ter o Censo também é fazer a defesa do País”, diz Olinto, que tem 39 anos de vida dedicados ao IBGE, onde foi coordenador das contas nacionais por 10 anos, diretor de pesquisas de 2014 a 2017 e depois presidente entre 2017 e 2019. Agora pesquisador associado da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ele avisa que o adiamento da pesquisa trará consequências gravíssimas para os municípios e o planejamento do País.
1) Como o senhor recebeu a informação de que o Censo pode ser adiado para sobrar recursos para o Ministério da Defesa?
Na minha opinião, é um escândalo inaceitável, rompe qualquer protocolo de produção de estatística mundial de qualidade. O adiamento de 2020 para 2021 era necessário e compreensível por causa da pandemia e exigiria contato físico intenso, com entrevistas longas. É muito mais estratégico para a Defesa ter o conhecimento do País com um Censo do que comprar armamento. Ter o Censo também é fazer a defesa do País. É melhorar a capacidade de ter informações militares. Vai ter o geoprocessamento do País inteiro.
2) Qual o maior problema?
Há dois problemas sérios. O primeiro é que o IBGE não teve orçamento para fazer a contagem da população que deveria ter sido feita em 2015. Agrava muito a situação. Quando eu era presidente, lutamos muito para essa questão do Censo porque já estávamos com problemas das estimativas populacionais. Tanto que hoje que a distribuição do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) está congelada esperando o Censo de 2020. Houve um acordo para evitar exatamente problemas de distorções do FPM por causa da população dos municípios se congelou sem perdas. Isso foi feito no último ano do meu mandato como presidente. E esperaria o resultado de Censo 2020 para recalcular os indicadores dos municípios. Isso é muito grave porque o Censo de 2022 só vai ter resultado em 2023. Vai ter 13 anos sem nenhuma informação demográfica. Os modelos vão perder aderência, coerência.