O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem utilizado a enorme e nem sempre transparente burocracia da imigração para restringir o fluxo de trabalhadores estrangeiros nos Estados Unidos e criando novos obstáculos para limitar as chegadas legais.
Atualmente, as autoridades norte-americanas negam novos vistos de trabalho, exigem que os candidatos forneçam mais informações e adiam as aprovações mais frequentemente do que acontecia um ano atrás. Hospitais, hotéis, companhias de tecnologia e outras empresas contaram que encontram grande dificuldade para preencher as vagas com a mão de obra estrangeira de que necessitam.
No laboratório de patologia da Northwell Health, em Nova York, o cubículo de uma médica está vazio, o seu computador e microscópio permanecem intocados. Outros residentes começaram no primeiro dia de julho, mas ela continua parada no Estado de Punjab, na Índia, retida por inexplicáveis atrasos na concessão do seu visto.
Executivos nascidos no país já temem perder talentosos engenheiros e programadores para países como o Canadá, que recebem de braços abertos os trabalhadores especializados estrangeiros.
Recentemente, Trump anunciou que também pretende reduzir para 30 mil o número de refugiados que têm a permissão de ingressar nos Estados Unidos no ano que vem – uma queda recorde. No ano passado, ele assinou um decreto em que tem por base a ideia: “Comprem produtos norte-americanos e contratem trabalhadores norte-americanos”.
Meritocracia
Os serviços de cidadania e imigração dos Estados Unidos afirmaram que o governo pretende fazer reformas que permitam avançar para um “sistema baseado no mérito”. Segundo as empresas, entretanto, o aumento da burocracia dificultou consideravelmente a concessão de vistos baseados em um emprego.
Uma análise da National Foundation for American Policy, grupo de pesquisa não partidário, mostrou que a taxa de recusa aos pedidos de visto a trabalhadores estrangeiros especializados subiu 41% no quarto trimestre do exercício fiscal de 2017, em comparação com o terceiro trimestre.
Os hospitais afirmam que precisam de médicos estrangeiros porque eles estão mais dispostos do que os norte-americanos nativos a aceitar salários mais baixos em campos como medicina interna e da família. Dos 1826 médicos residentes do Northwell, 165 estão em condição “under visa” (com o visto vencido).
Neste verão do Hemisfério Norte, Rob Hurst, 65 anos, teve que limpar toaletes e banheiras no hotel que ele gere em Massachusetts. Outros cinco trabalhadores jamaicanos que trabalharam muito tempo no hotel não conseguiram os vistos sazonais para voltar.
Os trabalhadores estrangeiros estão ficando cada vez mais frustrados. Uday Vema, 37 anos, vai deixar os Estados Unidos depois de viver 12 anos em Iowa, onde se formou em ciência da computação e trabalhava para uma empresa de tecnologia.
Ele emigrou da Índia, e renovou o seu visto enquanto aguardava inutilmente a permanência, também conhecida como Green Card. Ele, a esposa e o filho de 9 anos pretendem se mudar para Toronto, onde ele tem a possibilidade de aproveitar da iniciativa da Global Talent Stream que o governo canadense criou no ano passado.
A iniciativa permite que as companhias garantam rapidamente os vistos aos trabalhadores com especializações vitais. Verma recebeu um visto em duas semanas, e poderá obter a residência permanente em seis meses aproximadamente.
A sua empregadora, a fabricante de software Kira Systems, tem 115 funcionários. Noah Waisberg, um dos fundadores, contou que a metade da sua equipe técnica vem da China, Índia, Rússia e de outras nações: “Considerando-se o clima nos Estados Unidos agora, isso certamente nos ajudou a contratar”.