O Executivo tem dois mecanismos principais para obter apoio no Legislativo. O mais visível é a distribuição de ministérios e cargos para partidos aliados. Um exemplo dessa forma de ação pôde ser visto na semana passada. No dia 25, a Câmara aprovou projeto de lei de iniciativa do governo que prevê a taxação dos fundos de alta renda, tanto no País como os offshore, mantidos por brasileiros no exterior, principalmente em paraísos fiscais.
A aprovação do projeto ocorreu no mesmo dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a nomeação de Carlos Antônio Vieira Fernandes para a presidência da Caixa Econômica Federal no lugar de Rita Serrano, que foi demitida. A indicação para o comando do banco público era um dos pleitos do Centrão e foi negociada diretamente por Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara.
Outro mecanismo, mais discreto, é a liberação de recursos para obras nas bases eleitorais de deputados e senadores. As emendas individuais – frações do Orçamento que congressistas podem escolher como serão gastas – são de liberação obrigatória, mas o governo pode decidir o ritmo de pagamentos ao longo do ano. Para 2023, os deputados puderam indicar R$ 32 milhões cada um em emendas individuais. O valor foi de R$ 59 milhões no caso dos senadores.
O governo do presidente Lula ainda tem projetos prioritários no Congresso para tentar aprovar até o fim de 2023. Por exemplo, a reforma tributária e a taxação de fundos exclusivos e offshores no Senado e, na Câmara, o fim da dedução de juros sobre capital próprio da base de cálculo de Imposto de Renda Pessoa Jurídica e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. É comum a liberação de dinheiro para obras antes desse tipo de votação como moeda de troca por apoio às propostas.
Os dados acessados pela reportagem indicam que, neste ano, R$ 12,3 bilhões já foram pagos em emendas individuais do Orçamento de 2023. Ou seja, 58% da dotação atual de R$ 21,2 bilhões desses recursos. No caso de ex-congressistas, foram pagos R$ 4 bilhões de R$ 8,2 bilhões da dotação atual, aproximadamente 49%. Os pagamentos das emendas individuais de políticos que hoje têm mandato somam R$ 8,3 bilhões de um total de R$ 13,1 bilhões da dotação atual, o que representa 63%.
O ex-congressista que teve menos emendas individuais empenhadas (ou seja, reservadas para pagamento) até agora é Paulo Ganime (RJ), que foi deputado pelo Novo na última legislatura. No ranking de pagamentos, ele é o quinto com a menor quantia. “Pagas ainda não foram, mas não sei o motivo”, disse ele à reportagem. “Os ofícios que mandei de remanejamento (das emendas) foram atendidos”, declarou.
Ganime é de um grupo político adversário de Lula, mas também há ex-congressistas aliados do atual governo com dificuldades para destravar a liberação de suas emendas individuais. Nesses casos, apurou a reportagem, é comum a pressão pelo pagamento ficar a cargo do líder da bancada do partido.
Há outras modalidades de emenda. As de bancada estadual, por exemplo, ainda têm R$ 4,6 bilhões não pagos neste ano, contando empenhadas e não empenhadas. Nas de comissão, há quase R$ 7,5 bilhões não pagos relacionados a 2023. Nesses casos, porém, o sistema não registra os nomes ou partidos dos congressistas responsáveis pela indicação dos destinos dos recursos.
Dos R$ 13,5 bilhões de emendas individuais que ainda faltam pagar neste ano, R$ 8,9 bilhões são da dotação atual de 2023, e R$ 4,55 bilhões de restos a pagar dos anos anteriores – valores que estavam previstos em orçamentos de outros anos e, como não são executados, “sobram” para o exercício seguinte. Isso acontece, por exemplo, quando o recurso é destinado para uma obra demorada cujo pagamento é feito conforme as fases da construção avançam. Do total, são R$ 6,9 bilhões referentes a congressistas e outros R$ 6,6 bilhões a ex-congressistas.
Desses R$ 8,9 bilhões de 2023 que ainda não foram pagos, R$ 4,1 bilhões são relativos a ex-congressistas e R$ 4,8 bilhões aos atuais deputados e senadores. No caso dos R$ 4,6 bilhões de restos a pagar ainda não pagos, são R$ 2,5 bilhões de indicações de ex-congressistas e R$ 2,1 bilhões de congressistas.