Segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de outubro de 2017
“Sou vaidoso como qualquer um. Adoro ser elogiado, mas sei do meu tamanho.” Na semana passada, de seu gabinete na presidência da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) explicava a aliados a razão de não se considerar um problema para o Palácio do Planalto.
Ao dar pequenos socos sobre a mesa, como para pontuar cada movimento que fez nas últimas semanas, mostrava que, ao esticar a corda com o governo Michel Temer, tenta reformular o discurso e testar seu protagonismo à frente da agenda de recuperação econômica do País.
Pessoas próximas sustentam em três pilares o prognóstico da oscilação no comportamento de Maia desde o dia 2 de agosto, quando Temer conseguiu se livrar da primeira denúncia contra ele no plenário da Câmara, conforme o jornal Folha de S.Paulo..
O deputado julga-se credor do governo pelo resultado, não se sentiu recompensado pelo Planalto –ao contrário – e viu frustradas suas previsões de que o presidente teria mais dificuldade para barrar a segunda acusação contra ele, por obstrução de Justiça e organização criminosa.
Sentindo-se preterido da mesa de negociação dos caciques do governo e com necessidade de se reposicionar no cenário em que Temer salva seu mandato, Maia começou a agir com indisposição em relação ao presidente.
A mudança de tom, porém, despertou ainda mais desconfiança no Planalto – que o trata como um político imaturo – e dúvidas entre integrantes do mercado financeiro, nicho em que Maia circulava com facilidade.
Eles querem saber qual será a postura do deputado no dia seguinte ao provável sepultamento da segunda denúncia, principalmente em relação a medidas consideradas impopulares, como o adiamento do reajuste de salário do funcionalismo e a reforma da Previdência.
Sem obstrução
Dirigentes do DEM e parte do séquito do presidente da Câmara garantem que ele não criará um cenário catastrófico, de obstrução à agenda proposta por Temer.
Usará, porém, de um argumento numérico para se colocar como o condutor dessas medidas no lugar do presidente: o governo terá apoio para barrar a segunda denúncia com cerca de 30 votos a menos do que os 263 que conseguiu da primeira vez, mas não poderá mais contar com uma base aliada robusta para comandar o Legislativo.
Deputados reclamam de promessas não cumpridas do Planalto na liberação de cargos e emendas parlamentares e prometem retaliação.
Maia aproveita as insatisfações para mirar dois projetos políticos – o seu e o de seu partido que esbarram necessariamente nos planos de Temer e do PMDB.
Além de trabalhar para se reeleger deputado federal e presidente da Câmara, o democrata quer fortalecer o DEM com a migração de integrantes do PSB e de outros partidos. Pelas suas contas, a legenda precisa eleger de 40 a 50 deputados federais em 2018 para servir de “aeroporto” para uma possível candidatura presidencial.
Por enquanto, garante, o avião não será ele mesmo: “Se tivesse votos para ser candidato a presidente da República, eu seria, mas não tenho”, é o que tem dito.
Os movimentos para que o DEM ganhe musculatura e conquiste o eleitorado de centro-direita incomodaram Temer – que tem os mesmos projetos para o PMDB. O presidente agiu de pronto, cortejou quadros do PSB que negociavam com os democratas e filiou ao PMDB o
senador Fernando Bezerra (PE).
Maia se enervou e as disputas entre ele e o Planalto ganharam novos contornos.