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Colunistas O império de silício

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Para muitos, a aproximação do agora já empossado novo Presidente americano com as chamadas “Big Techs”, gigantes digitais americanas que passam a ocupar um papel importante no novo governo, é apenas movida a propósitos econômicos, mas tudo sugere ser bem mais do que isso. O ainda insondável poder dos algoritmos assumiu enorme protagonismo e desafia os líderes deste novo início de milênio a fazerem apostas arriscadas. Um dos desdobramentos observados a partir das mudanças tecnológicas em curso tem sido confrontar os pressupostos do conservadorismo de direita e do progressismo associado à esquerda. Ambos estão abalados pela emergência de um novo paradigma comunicacional e os resultados têm sido surpreendentes. No caso específico da política americana, uma das hipóteses, levantadas por Yuval Harari, seria de que a velocidade das mudanças tecnológicas teria tornado o programa conservador irrealista, instigando-o a ocupar o papel revolucionário antes reservado à esquerda, numa lógica semelhante àquela observada nas sinistras décadas de 1920 e 1930, quando forças conservadoras apoiaram revoluções fascistas radicais na Alemanha, Itália, Espanha e em outros lugares, com medo da ascensão comunista.

Hoje, é bom frisar, o panorama econômico, político e social é diferente daquele período que fomentou a Segunda Grande Guerra, o que não retira a urgência dos eventos que reconfiguram essa quadra de tempo, agora demarcado por um frenético movimento de singulares circunstâncias, embora algumas delas ainda tingidas por um sentimento de “déja vu”, como se estivéssemos revisitando algumas experiências do passado, não exatamente aquelas mais edificantes. É nesse contexto que a posse de Donald Trump suscita tanto a apreensão em relação ao futuro, dado não apenas ao seu espírito mercurial, quanto a um certo desapontamento e desencanto com suas ideias mofadas por um conservadorismo sectário e agressivo. Há, visivelmente, uma contradição entre o avanço sugerido na associação algorítmica com as grandes plataformas, que poderiam sugerir modernidade, com políticas anti-imigração, medidas econômicas de cunho protecionista e isolacionista, além de uma agenda antiambiental, claramente em descompasso com um mundo multiétnico multilateral e interdependente.

Um outro paradoxo que se apresenta é o contraste entre uma personalidade narcísica e centralizadora, características de Trump, com uma realidade geopolítica cada vez mais complexa e insondável, requerendo concertações de ordem mais plural e dialógica, justamente o que o novo Presidente afirma não querer fazer. Alheio a tais pendores, o mundo segue seu curso, nos quais são inquestionáveis os desafios que o cenário apresenta aos atuais e futuros líderes. O rápido envelhecimento de muitas populações, a ameaça da IA provocando a obsolescência de milhões de empregos, as questões envolvendo as mudanças climáticas, o desmoronamento da ordem unipolar e uma ainda vacilante nova ordem multipolar emergindo, além do enfraquecimento das instituições multilaterais, requerem mais e não menos liderança com visão global. Foi, contudo, justamente nesse terreno no qual as pessoas se sentem inundadas por um caudaloso rio de informações, que pouco podem digerir, que as teorias conspiratórias floresceram com mais vigor e o populismo carismático cresceu em igual medida, provocando um retorno a padrões isolacionistas e protecionistas, paradoxalmente no País que foi o esteio para a democracia ocidental após 1945.

Dado esse quadro nebuloso, há sempre o imponderável e até mesmo os piores vaticínios podem ser alterados pelas circunstâncias. Trump intuiu que o ouro do século XXI é a informação, de preferência concentrada e manipulável, abrigada sob o inatacável direito à liberdade de expressão. Não por outro motivo, as big techs são só sorrisos, sinalizando com clareza poucas vezes tão nítida, que a anarquia digital, filha pródiga do totalitarismo digital, poderá estar a serviço de uma autocracia protegida, não por uma cortina de ferro, mas de silício.

(edsonbundchen@hotmail.com)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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