Quarta-feira, 13 de novembro de 2024
Por Edson Bündchen | 7 de novembro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Não é de hoje que se debate no Brasil qual é o melhor caminho para conciliar crescimento econômico com maior justiça social. As demandas se avolumam, nossa economia se revela crescentemente complexa, há mudanças profundas no ambiente de trabalho com a incorporação da IA, a competição com outros países se intensifica, o ambiente externo traz inquietudes geopolíticas crescentes e nosso ambiente de negócios permanece ainda bastante hostil para quem quer empreender. Se tudo isso não fosse pouco, enfrentamos problemas macro e microeconômicos que, per si, seriam elementos suficientes para mobilizar a sociedade e suas lideranças em prol de inadiáveis mudanças.
Em vez disso, contudo, o que assiste é um infrutífero e paralisante debate se cabe ou não, dentro do orçamento do Governo, um pouco mais de dívida pública. Essa insegurança quanto aos destinos da política fiscal tem alimentado uma política monetária por parte do Banco Central que impõe pesados custos ao setor produtivo e impede o País de ingressar num ciclo mais virtuoso e duradouro de crescimento econômico, condição fundamental para que voltemos a investir e crescer.
Nesse cenário, naturalmente que a discussão sobre o funcionamento da economia, o papel do Governo e quais políticas de investimento devem ser priorizadas, num país com os gargalos e deficiências como o nosso, é algo de extrema relevância. Contudo, ainda patinamos no eterno e acalorado debate entre ortodoxos e heterodoxos, entre maior ou menor presença estatal, entre ter mais ou menos déficit nas contas públicas.
Enquanto esse debate prossegue, sem que haja o imprescindível consenso, apesar de alguns bons indicadores como a taxa de desemprego e o crescimento do PIB, patinamos nos inconvenientes e preocupantes indicadores do Dólar, do preço dos combustíveis e do pior problema de todos: uma dívida interna que, dependendo do método de avaliação, já bate a casa dos 80% em relação ao PIB e causa desconfiança entre todos os agentes do mercado.
Contudo, mesmo com a situação atual, existe uma corrente de pensamento econômico que não enxerga na questão fiscal um problema tão grave a ponto do Bacen praticar taxas de juros reais quanto às atualmente vigentes. Segundo os economistas Samuel Pessôa e Marcos Lisboa, um dos aspectos centrais que diferencia ortodoxia e heterodoxia econômica é fundamentalmente questão de método de análise.
Enquanto, segundo eles, a ortodoxia se basearia em conjecturas precisas e “falseáveis”, ou seja, sujeitas à comprovação, mediante testes empíricos, a heterodoxia se basearia em “grandes narrativas” apoiada em “fatos estilizados” selecionados de modo casuístico – ou, ainda, na leitura interpretativa de grandes autores do passado, como John Maynard Keynes e Karl Marx, por exemplo. É claro que esse debate não fica circunscrito ao ambiente acadêmico, até porque intelectuais e sociedade mantêm necessária integração e sinergia. Desse modo, é previsível que governos sejam influenciados por tais discussões, com reflexos diretos nas diversas políticas adotadas.
Porquanto parece existir uma clara inclinação do mercado e seus mais diversos agentes para uma política de austeridade fiscal, com rígido controle de gastos e geração de superávits, a escola heterodoxa e seu corolário de pressupostos não sinaliza que abriu-mão de suas crenças de que um “um pouquinho de inflação não faz mal”.
Com a atual política de juros praticada pelo Banco Central em resposta à dificuldade do Governo em conter seus gastos, o atual debate deveria convergir para que o “núcleo duro” da discussão sobre os riscos do déficit público convergisse para um consenso elementar observado em todas as economias estáveis.
Nesses termos, o Brasil precisa acelerar o debate sobre o papel dos governos na economia, seja nos meios acadêmicos ou em outros fóruns, mas não pode vacilar na questão essencial do controle das contas públicas, base do compromisso para com a estabilidade monetária e o próprio futuro do País.
Edson Bündchen
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.