A atriz Maria Fernanda Cândido soltou o verbo em uma entrevista. “Eu gosto da lente. Não tem a ver com a moda. Tem mais a ver com a objetiva. Gosto de fotografia, de fotografar. Gosto de fotógrafos, de diretores de cinema”, afirmou.
Ela revelou ainda que espaço destina em sua vida ao desejo. “Meu desejo, hoje, é que eu possa estar conectada comigo mesma. Eu sinto o mundo hoje muito acelerado. É um período em que há um consumismo exagerado, uma época em que as coisas são muito descartáveis.”
“Tudo isso te coloca numa forma de vida que às vezes não é a que você idealiza. Então, meu desejo é que eu consiga, de fato, desejar nada, mas nada além do que eu realmente preciso. Meu desejo é desejar só aquilo que eu preciso.”
A segurança é marca da atriz, que gesticula muito e pouco altera o tom de voz. Neste ano, chegou aos 45 olhando para trás para, então, decidir os próximos passos. “Muitas vezes, em um determinado momento, eu não parava para refletir ou me questionar. De repente, esta fase da vida te permite já, de certa maneira, fazer uma parada e se perguntar: ‘O que eu já fiz até agora?’”
Maria Fernanda alcançou o sucesso no cinema, nas telenovelas e nos palcos de teatro. No Brasil e na Europa. É empresária, mãe de dois meninos, de 11 e 13 anos, e reveza-se entre São Paulo e Paris, cidade onde nasceu o seu marido, o empresário Petrit Spahira, 45. Os dois estão casados desde 2005.
“Você, às vezes, vai simplesmente cumprindo tarefas e respondendo a todas essas exigências. E segue nessa trajetória de maneira até automática, sem parar para pensar”, continuou ela.
Com cenas gravadas na França, o recém-lançado filme “O Incerto Lugar do Desejo”, estrelado por ela no papel de Ana Thereza – e que ainda conta com participações de nomes como os dos filósofos Luiz Felipe Pondé e Clóvis de Barros Filho, da artista Marilu Beer e da consultora Costanza Pascolato –, fala da inquietação feminina.
A personagem é uma mulher casada que, durante uma temporada de pós-doutorado em Paris, apaixona-se. “A mulher responde a várias instituições: casamento, maternidade, trabalho, etc. É um assunto muito discutido atualmente. Então, a gente quer entender. Como as mulheres hoje conseguem transitar e lidar com todas essas questões, com essa complexidade de papeis, exigências e cobranças?”
“E, nessa complexidade, onde fica o desejo? Se é que ele tem lugar. O quanto é possível você dialogar com os seus próprios desejos dentro dessa complexidade?” A atriz, com frequência, precisa abrir mão da convivência com os filhos, por mais que deseje estar com os dois. “Eles entendem que faz parte do processo da família, do nosso cotidiano. A mãe deles tem sempre que viajar, mas para mim isso é um pouco difícil.”
“É um pouco sofrido. Eu sinto. Eu sou muito…não sei explicar. Eu gosto de ficar com eles, gosto de ficar perto [nesse momento, fecha os punhos e envolve os braços em si mesma, como quem quisesse abraçar os meninos]. E eu viajo muito, então é um esforço”, explicou.
Viajou pela Itália nos últimos tempos para gravar o drama “O Traidor”, dirigido por Marco Bellocchio – da geração clássica de cineastas italianos. Neste ano, roubou a cena no tapete vermelho do Festival de Cannes por causa desse filme. “A gente teve 13 minutos de aplausos. Me lembro que li isso. E foi mesmo, porque eu estava lá na hora (risos).” Na plateia estavam nomes como Leonardo DiCaprio e Gael García Bernal.
Nas andanças da divulgação do longa, encontrou artistas italianos e teve o trabalho reconhecido por eles. “Eu estive recentemente com [a atriz] Gina Lollobrigida. Conheci, pude conversar. Estávamos na Sicília, no Teatro Antigo de Taormina, num prêmio que recebi por causa desse filme. E ela era a grande homenageada da noite”, recorda.
“A Gina é uma mulher que se tornou escultora da história de vida dela. Uma mulher de muita sensibilidade, de muita força, que me encantou. Acabou sendo um encontro muito inspirador para mim.”