O governo federal anunciou em reunião com governadores nesta terça-feira (20) que a União vai comprar 46 milhões de doses da Coronavac, vacina contra a covid-19 do Instituto Butantan produzida em parceria com a empresa chinesa Sinovac. Com isso, o governo federal deve editar uma nova medida provisória (MP) para disponibilizar R$ 2,6 bilhões até janeiro.
Assim como as demais vacinas testadas no Brasil, a Coronavac está em fase de testes e sua eficácia ainda precisa ser comprovada antes que o uso seja liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Nos testes, são aplicadas duas doses do imunizante por voluntário.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e mais 23 governadores participaram da reunião com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Segundo Pazuello, quando a vacina for aprovada, as doses serão distribuídas a todo o Brasil por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que há décadas é responsável por campanhas nacionais de vacinação. “Temos a expertise de todos os processos que envolvem esta logística, conquistada ao longo de 47 anos de PNI. As vacinas vão chegar aos brasileiros de todos os Estados”, disse Pazuello.
Até a reunião realizada na semana passada com os secretários estaduais de Saúde, o governo federal não havia incluído a Coronavac no programa nacional de vacinação. O secretário estadual da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, disse na ocasião que o ministério só havia investido em Oxford, e tratava vacinas que estavam na mesma fase de testes de “maneira diferente”.
Antes do anúncio desta terça, a previsão do ministério era ter 140 milhões de doses no primeiro semestre de 2021:
– 40 milhões via iniciativa COVAX Facility, liderada pela Organização Mundial da Saúde (OMS);
– 100 milhões de doses via AstraZeneca/Oxford (além dessas doses, no segundo semestre, o governo pretende produzir 165 milhões de doses deste imunizante).
Agora, o Ministério da Saúde afirmou que “somadas, as três vacinas – AstraZeneca, Covax e Butantan-Sinovac – representam 186 milhões de doses, a serem disponibilizadas ainda no primeiro semestre de 2021”.
O governo de São Paulo já havia fechado contrato com o laboratório chinês para a aquisição dessas 46 milhões de doses. A gestão Doria buscava negociar com o governo federal para que elas fossem distribuídas via Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar disso, o governador já chegou a afirmar que, caso não houvesse acordo com o Ministério da Saúde, o governo estadual iria garantir a vacinação para “os brasileiros de São Paulo”.
Segurança da vacina
A Coronavac está na terceira fase de testes. Na segunda (19), o governo de São Paulo afirmou que 35% dos nove mil voluntários que participam dos testes no Brasil apresentaram reações adversas leves. Segundo o governo, não houve registro de efeitos colaterais graves e a vacina pode ser considerada segura.
A informação faz parte de um estudo parcialmente apresentado em entrevista coletiva. O estudo, no entanto, não foi publicado em revista científica. Ainda não há dados sobre a eficácia da Coronavac. Segundo o governo, essas informações serão apresentadas até o fim do ano.
Embora Doria tenha garantido anteriormente que a vacina começaria a ser aplicada em profissionais de saúde no dia 15 de dezembro, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse que a data para liberação ainda é incerta. Para ser aprovada pela Anvisa, é necessário que a eficácia da vacina também seja comprovada.
“As perspectivas da vacina são otimistas, mas não podemos dar uma data específica de quando isso vai acontecer. Esperamos que até o final do ano essa vacina tenha o dossiê entregue na Anvisa, e que a Anvisa possa proceder a análise e o registro”, disse.
Acordo
O acordo para a compra de 46 milhões de doses com verba estadual foi assinado por Doria durante coletiva de imprensa no final de setembro. Segundo Dimas Covas, a vacina começaria a ser envasada no Brasil já em setembro e até o final do ano o Instituto teria 46 milhões de doses prontas. “Aí aguardaremos o processo de registro”, disse o diretor do Butantan.
O contrato assinado pelo governo com o laboratório chinês tem o valor de 90 milhões de dólares e prevê que a farmacêutica envie seis milhões de doses da vacina já prontas, enquanto outras 40 milhões seriam envasadas em São Paulo até dezembro de 2020.
O governo estadual também anunciou a previsão de adquirir mais 15 milhões de doses até fevereiro de 2021, chegando ao total de 61 milhões com verba própria. A expectativa era que, com o dinheiro do governo federal, mais 40 milhões fossem adquiridas, chegando a 100 milhões até maio de 2021.