Em ampla entrevista ao jornal britânico Financial Times, o ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, apresentou a sua visão econômica e discutiu sobre as reformas que almeja para o País. Para ele, o Brasil precisa de uma perestroika – o processo de abertura política implantado por por Mikhail Gorbachev na União Soviética nos anos 1980 que acabou levando ao fim do comunismo.
Em um reflexo da polarização que marcou as eleições do ano passado, Guedes afirmou que as “pessoas de esquerda têm miolo mole e bom coração”. E completou: “as pessoas de direita têm a cabeça mais dura e…”, após uma pausa, “o coração não tão bom”, complementa.
Crítico às intervenções estatais na economia, Guedes defende reformas de livre mercado e considera estar criando uma “sociedade Popperiana aberta” – em referência ao filósofo austríaco Karl Popper, defensor de uma democracia liberal dinâmica.
Segundo o jornal britânico, Popper é também “um herói para George Soros”, o bilionário filantropo criticado, por exemplo, por Eduardo Bolsonaro .
Para Guedes, “a ideologia é o verdadeiro inimigo”. O FT citou a preocupação com a desigualdade social no Brasil, mas o ministro assegurou que não pretende cortar gastos sociais: “Vamos manter os gastos sociais, mas acabar com a corrupção e os privilégios.”
“O Brasil é a oitava maior economia do mundo, mas ocupa o 130º lugar em grau de abertura, próximo ao Sudão. Ele também está classificado em 128º em termos de facilidade de fazer negócios”, ressaltou o ministro. Segundo o jornal britânico, Guedes quer que o Brasil melhore a sua posição nos rankings – indo para o 65º e 64º lugar, respectivamente – durante os quatro de governo, corte de gastos, revisão da legislação tributária, redução da burocracia e privatizações.
Guedes reforça a necessidade de reformar o sistema previdenciário. “As pensões são uma máquina de transferência de renda regressiva e perversa.” Por isso, defende mudanças profundas:
“A Rússia e o Brasil tiveram a glasnost antes da perestroika “, diz Guedes, referindo-se à abertura política e econômica da União Soviética – os termos significam, literalmente, transparência e reestruturação. “É preciso ter os dois (abertura política e econômica). A partir daí consegue-se crescimento e uma classe média que traz estabilidade”.
“Democracia de uma perna só”
Segundo ele, a alternativo a isso levou o Brasil a ser um Estado rentista caracterizado pela corrupção.
“Éramos uma democracia de uma perna só”, afirmou Guedes. “O sistema é corrupto.”
Guedes também falou de sua passagem pelo Chile, onde, na ditadura de Pinochet, ajudou a implantar uma economia de mercado. Segundo ele, o país, na época, era “mais pobre do que Cuba e Venezuela hoje”, mas os “Chicago boys” – referência à chamada Escola de Chicago, de onde ele saiu – resolveram isso. “O Chile hoje é como a Suíça”, afirmou, considerando “bobagem” as críticas de que, após as reformas, o desemprego saltou a 21% em 1983.
“O desemprego já estava lá”, afirmou. “Estava somente escondido dentro de uma economia destruída.”
No caso do Brasil, o mais urgente, diz, é resolver a questão do déficit fiscal. Para isso, afirma, a reforma da Previdência é crucial.
“O problema dos gastos é crucial. Por isso, é lógico que devemos resolver esse item primeiro, com a reforma da Previdência’, afirmou. “Depois os impostos, depois o balanço de pagamentos e a privatização. No fim das contas, muitas estatais ficarão. Se eu quiser vender 100, provavelmente conseguirei vender 25.”
Guedes tem metas ambiciosas para a economia brasileira. Mas reconhece que pode haver entraves políticos: “O presidente sempre pode dizer não.”