Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 3 de junho de 2019
Celebrado nas manifestações pró-governo realizadas no dia 26 de maio, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, se deparou, na semana passada, com um paradoxo. Após ter conquistado o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e visto a Câmara dos Deputados aprovar a sua devolução ao Ministério da Economia, ele acabou pedindo a senadores que não tentassem reverter a decisão.
Diante do apoio popular ao ministro, senadores cogitaram fazer a mudança ao votar a MP (medida provisória) 870. Nesse caso, o texto teria que voltar à Câmara, e a MP corria o risco de perder a validade devido ao esgotamento do prazo para a sua votação. Com isso, a reforma administrativa feita no governo Bolsonaro iria por terra.
Mesmo senadores que apoiam Moro reconhecem que o seu recuo no caso do Coaf mostrou uma curva de aprendizado na arte da política. Dizem também que, agora, ele se mostra parte de um governo e tem aprendido que não pode agir sozinho.
É o caso de Marcos Rogério (DEM-RO), que afirma que os protestos fortaleceram o ministro, mas que isso não o exime de fazer política. “Agora, ele é parte do governo, é parte do corpo ministerial. O ministro tinha a intenção de trazer para o Ministério da Justiça o Coaf. Mas ele, ao longo desse processo, acabou conhecendo mais da política. Na política, uma hora você ganha, uma hora você perde. Depende do ambiente, depende do momento”, avaliou o senador.
Para o senador Alessandro Vieira (PPS-SE), Moro está se adequando a uma nova realidade em que, apesar de dispor da simpatia das ruas, tem menos autonomia no Executivo do que tinha como juiz. “O ministro Moro está começando a ver como é difícil trabalhar no Executivo. Um magistrado tem garantias e uma autonomia que integrantes do Executivo não têm. Ele é obrigado a compor com uma equipe”, disse.
Apoio nos protestos
Para o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-RJ, o fato de Moro ter apoiado os protestos de 26 de maio marcam um novo momento para o seu papel no governo. “É a indicação de que ele entrou no governo para ficar, não para passar um tempo e ir embora. Ele não é mais juiz, é ministro de Estado, faz parte de um governo”, disse Ismael.
Auxiliares de Moro acreditam que as manifestações terão impacto positivo na tramitação do pacote anticrime e de outras propostas de interesse da pasta. A avaliação interna é de que a voz das ruas teve forte impacto na votação da reforma administrativa no Senado.