Quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 2 de setembro de 2018
Antes de se tornar presidente do PSL, partido do candidato à Presidência que lidera as intenções de voto sem Lula no páreo, Gustavo Bebianno enviou um e-mail ao gabinete do deputado Jair Bolsonaro. Com um currículo anexo, ofereceu-se como soldado na batalha a favor do impeachment de Dilma Rousseff. Quis fornecer ajuda jurídica voluntária ao deputado que pregava contra o PT ainda em 2014, já preparando o terreno para 2018. Foi ignorado.
Quatro anos depois, filiado ao nanico PSL desde janeiro, transformado em braço-direito do presidenciável e especulado como ministro da Justiça em um eventual governo Bolsonaro, atualmente Gustavo Bebianno controla um caixa de R$ 537 mil mensais do fundo partidário, além de um total de R$ 9,2 milhões do fundo eleitoral.
Antes de conhecer Bolsonaro, pediu ao sogro, coronel do Exército, que tentasse arranjar um encontro com o capitão em Brasília. Tentou se aproximar por meio dos filhos do deputado.
Em maio de 2017, veio a chance de ver Bolsonaro. Levado por um conhecido, apareceu em um estúdio na Barra da Tijuca onde o candidato era fotografado pela equipe da agência YXE, do empresário Gutemberg Fonseca. Foi a primeira vez que Bebianno apertou a mão do presidenciável.
Reviravolta partidária
Nos dias subsequentes, passou a frequentar o Campo de Golfe Olímpico, onde fica a agência de Gutemberg, também na Barra da Tijuca, ofertando ajuda jurídica à equipe de pré-campanha. No gabinete em Brasília, conheceu Julian Lemos, vice-presidente do PSL, com quem divide a coordenação da campanha.
Até então, o grupo mais próximo do presidenciável era formado por Gutemberg, pelo pré-candidato a deputado estadual do PSL no Rio de Janeiro Rodrigo Amorim e pelo advogado Bernardo Santoro — além dos filhos do deputado. O trio estava preparando a entrada de Bolsonaro no Partido Ecológico Nacional (PEN), que mudaria o nome para Patriota como condição para a filiação do capitão. Mas Bebianno articulou uma mudança de planos e, seis meses depois de se comprometer com a sigla, consumou a transferência de Bolsonaro para o PSL.
Bebianno agora é responsável por negociar nos Estados as candidaturas do PSL a senador, deputado federal e deputado estadual, além de advogar para o candidato e dar conselhos jurídicos.
“Sou uma espécie de Bombril, mil e uma utilidades”, disse Bebianno ao jornal O Globo, ao mencionar que também costumava fazer, ele próprio, a segurança do presidenciável.
Faixa preta
Em 1990, depois de receber a faixa preta de jiu-jítsu, o advogado trancou o curso de Direito na PUC do Rio e foi tentar a vida dando aulas da arte marcial em Miami, nos Estados Unidos. Abriu uma academia na cidade que chegou a ter cem alunos. Mas, quatro anos depois, voltou ao Rio para retomar os estudos.
Em 2006, voltou à Flórida, desta vez como sócio de Rilion Gracie, um dos filhos da família de lutadores. Investiu cerca de US$ 60 mil em uma academia com Gracie, com quem treinava desde os 18 anos em Ipanema. Em 2008, voltou ao Brasil.
Aos 54 anos, com a coluna desgastada pelos anos de tatame, hoje só treina boxe.
Embora tenha conquistado espaço na campanha, ele se diz um outsider da política: “O ambiente político me dá náuseas, é um mundo de traições”, afirmou Bebianno que, no entanto, não descarta assumir cargos num eventual governo de Bolsonaro.
Desgaste com aliados
Nas últimas semanas, são frequentes os desentendimentos entre Bebianno e apoiadores de Bolsonaro espalhados pelo Brasil. Depois que uma mensagem apócrifa que acusava o presidente e o vice-presidente, Julian Lemos, de terem vendido “candidaturas a governo de estados por milhões de reais”, ele foi denunciado por apoiadores de fazer telefonemas em tom de ameaça.
Em um vídeo ao qual Globo teve acesso, aparece chamando um interlocutor de “viadinho”.
“Perdi a razão, estava com sangue quente, errei”, disse Bebianno, acrescentando: “Ser viadinho não tem a ver com a opção sexual. Tem muito heterossexual por aí que é viadinho nas atitudes.”
Pré-candidato a deputado federal pelo PSL em Pernambuco, Rômulo Bittencourt, que é fundador de 65 grupos de WhatsApp de apoio a Bolsonaro, diz ter sido ameaçado por Bebianno.
“Quando divulguei esse texto, o Gustavo Bebianno me ligou, me ameaçou, me xingou, falou um bocado de palavrão. Disse que ia me dar um murro na cara.”
Rômulo nega que tenha sido o criador do texto apócrifo, que, segundo ele, foi distribuído originalmente em grupos de direita da Paraíba. Bebianno disse que as mensagens divulgadas por WhatsApp são mentirosas .