Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 14 de março de 2018
O técnico de TI Notanee Bourassa observou uma estranha luz roxa enquanto observava o céu com seus filhos. Interessado pelos cenários de luzes naturais desde quando era adolescente, há 30 anos, Bourassa percebeu que aquilo não era uma aurora.
De 2015 a 2016, cidadãos cientistas – pessoas como Bourassa que estão interessadas em algum campo de ciência, mas não têm necessariamente uma formação na área – compartilharam 30 relatórios dessas luzes misteriosas em fóruns on-line e com uma equipe de cientistas que executa um projeto chamado Aurorasaurus. O projeto de ciência cidadã, financiado pela NASA (agência espacial norte-americana) e a National Science Foundation, rastreia a aurora boreal através de relatórios e tweets enviados pelos usuários.
A equipe Aurorasaurus, liderada por Liz MacDonald, cientista espacial do Goddard Space Flight Center da NASA em Greenbelt, Maryland, dedicou-se a identificar o fenômeno misterioso.
As principais fontes para os estudos foram fotógrafos amadores que registram essas imagens e compartilham em um grupo do Facebook chamado Alberta Aurora Chasers. Bourassa fazia parte do grupo e junto com o administrador deu o nome de Steve ao fenômeno.
Do espaço, o satélite Swarm da ESA (Agência Espacial Europeia) passou pela área e documentou Steve em imagens ao mesmo tempo em que Bourassa o fez da Terra. Pela primeira vez, pesquisadores tiveram pontos de vista terrestres e por satélite do fenômeno.
Os cientistas já descobriram que Steve pode ser uma peça de quebra-cabeça para entender melhor como os campos magnéticos da Terra funcionam e interagem com partículas carregadas no espaço. Os resultados dos estudos foram publicados nesta quarta-feira (14) no site de pesquisa Science Advances. “Esta é uma exibição de luz que podemos observar a milhares de quilômetros do chão”, disse MacDonald.
“Isso corresponde a algo que está acontecendo no espaço. Reunir mais dados sobre Steve nos ajudará a entender mais sobre seu comportamento e sua influência no tempo espacial .”
O estudo destaca uma qualidade chave de Steve: ele não é uma aurora normal. As auroras ocorrem globalmente em uma forma oval e aparecem principalmente em verdes, azuis e vermelhos. Os relatórios terrestres feitos pelos cidadãos cientistas mostram que Steve é uma linha roxa com começo e fim.
Segundo MacDonald, Steve e auroras boreais são “sorvetes de sabores diferentes”. Os dois fenômenos são formados da mesma maneira: partículas do Sol interagem com as linhas de campo magnético da Terra.
A singularidade de Steve está nos detalhes. Enquanto o fenômeno passa pelo mesmo processo de criação das auroras, ele viaja ao longo de diferentes linhas de campo magnético. Imagens de satélites mostram que Steve aparece em latitudes muito mais baixas, isso significa que as partículas carregadas que o formam se conectam a linhas de campo magnético que estão mais perto do equador da Terra.
Steve é uma descoberta importante devido à sua localização na zona sub-auroral, uma área de latitude mais baixa do que normalmente as auroras aparecem e que dificilmente é estudada. A descoberta mostra que na zona sub-auroral ocorrem processos químicos que levam à emissão de luz.
“Steve pode ser a única pista visual que existe para mostrar uma conexão química ou física entre a zona auroral de maior latitude e a área sub-auroral de baixa latitude”, disse MacDonald.
Os cientistas podem descobrir muito sobre Steve com relatórios terrestres e de satélites, mas a gravação simultânea do fenômeno do ponto de vista da superfície da Terra e do espaço é uma ocorrência rara.
Cada satélite Swarm orbita a Terra a cada 90 minutos, enquanto que o Steve dura em média uma hora e acontece apenas em uma área específica. Se o equipamento “perder” o fenômeno enquanto gira em torno do planeta, dificilmente conseguirá chegar novamente ao ponto certo de ocorrência das luzes para registrá-las. No final, capturar Steve se torna um jogo de perseverança e probabilidade.