Segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 26 de janeiro de 2025
Quando os virologistas observaram pela primeira vez a variante XEC da covid-19, que começou a se tornar dominante no outono de 2024 no hemisfério norte, os sinais iniciais foram ameaçadores.
Última descendente da variante ômicron do SARS-CoV-2, a XEC surgiu por meio de recombinação, um processo que leva duas outras variantes a formarem juntas seu material genético.
Os testes pareciam indicar que este processo permitiria que a nova variante se esquivasse facilmente da proteção imunológica oferecida pelas infecções passadas ou das últimas versões das vacinas contra a covid-19, baseadas nas variantes mais antigas JN.1 e KP.2.
“A proteína spike é bastante diferente das variantes anteriores, de forma que foi muito fácil prever que a XEC tem potencial para evitar a imunidade induzida por infecções pela JN.1”, declarou o professor de virologia Kei Sato, da Universidade de Tóquio, no Japão. Ele realizou um dos primeiros estudos sobre a variante XEC, publicado em dezembro de 2024.
Nos Estados Unidos, especialistas em doenças infecciosas se prepararam para um possível surto de hospitalizações, imediatamente após o feriado de Ação de Graças – o que não aconteceu.
Testes de vigilância, que envolveram a avaliação de covid em amostras do esgoto das principais cidades, indicaram que a variante XEC certamente estava infectando as pessoas. Mas a quantidade de pacientes hospitalizados foi consideravelmente menor do que nos invernos anteriores.
Dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) indicam que a taxa de hospitalizações no início de dezembro de 2023 era de 6,1 a cada 100 mil pessoas. E, durante a mesma semana de dezembro de 2024, o índice caiu para duas a cada 100 mil pessoas.
O que aconteceu? “Neste momento, estamos observando níveis muito baixos de pessoas com a forma grave da doença, apesar da quantidade astronômica de covid encontradas no esgoto”, afirma o professor Peter Chin-Hong, da Divisão de Saúde de Doenças Infecciosas da Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos.
“Isso simplesmente mostra que, independentemente do quanto uma variante pode parecer assustadora no laboratório, o ambiente onde ela aparece é muito mais inóspito.”
Algumas indicações sugerem que a covid em 2025 é uma doença mais leve. Os conhecidos sintomas de perda de olfato e paladar, por exemplo, estão se tornando menos comuns.
É verdade que algumas pessoas estão sendo hospitalizadas e morrendo, mas Chin-Hong afirma que a ampla maioria dos pacientes será assintomática ou sofrerá um resfriado muito leve, que alguns poderão muito bem confundir com uma alergia sazonal, como a causada pelo pólen.
Os indivíduos imunocomprometidos ainda são particularmente vulneráveis, mas o professor acredita que o principal fator de risco para a forma mais grave da covid, agora, é simplesmente ter mais de 75 anos de idade.
Ainda assim, os especialistas aconselham que todos os grupos vulneráveis tomem a última vacina contra a covid-19. Ela pode fornecer proteção vital contra a doença grave, hospitalização e morte. E, embora a variante XEC aparentemente cause doença mais leve, não há como garantir que outras variantes mais graves não irão surgir no futuro.
Isso significa que a ameaça representada pela covid-19 está longe de ser eliminada e que o vírus não deve ser subestimado. Os especialistas acreditam que ele continuará sendo uma ameaça persistente e significativa para a saúde pública.
O risco de desenvolver covid longa também não desapareceu e, para algumas pessoas, esta condição pode durar anos.
Na Faculdade de Medicina Icahn em Mount Sinai, em Nova York (EUA), o professor de microbiologia Harm Van Bakel é um dos líderes do Programa de Vigilância de Patógenos.
O programa aplica a última tecnologia da genômica para acompanhar em tempo real as infecções fúngicas, virais e bacterianas no sistema de saúde do hospital Mount Sinai.
Van Bakel conta que, no inverno atual da região, os dados demonstram que a covid apresenta relativamente poucos casos até o momento, mesmo com o surgimento da variante XEC.
“Eu diria que, nos últimos seis meses, ficou relativamente calmo”, explica ele. “Em comparação com outros vírus respiratórios, eu diria que o SARS-CoV-2 talvez represente, pelo menos em casos de hospitalização, cerca de 10% das infecções por vírus respiratórios que estamos observando nesta estação.”
Mesmo quando os pacientes são internados no hospital, os protocolos de tratamento foram sensivelmente alterados nos últimos dois a três anos.
Chin-Hong relembra que os pacientes recebiam imediatamente anticoagulantes ou medicamentos para diluição do sangue, para reduzir a possibilidade de formação de coágulos. Hoje, isso não é mais considerado necessário.
Esteroides como dexametasona ainda são usados em certos casos graves, mas ele afirma que estes tendem a ser exceções e os antivirais são o tratamento predominante.
“Acho que a ômicron e suas subvariantes se concentraram cada vez mais em causar sintomas de resfriados mais leves no trato respiratório superior, em vez da pneumonia e de algumas das manifestações invasivas que observamos no passado, como doenças cardiovasculares e coágulos”, explica o professor. “Isso significa que, quando as pessoas chegam ao hospital, elas costumam entrar e sair em espaço de tempo mais curto.”
Como parte do seu trabalho rastreando diversos vírus respiratórios na Faculdade de Medicina da Universidade de Missouri, nos Estados Unidos, o virologista molecular Marc Johnson emprega todas os mecanismos possíveis para examinar os níveis de covid em circulação atualmente. E, como Chin-Hong, ele também pode confirmar que o vírus está presente em grandes quantidades.
“Começamos a fazer amostragens do ar em muitos locais pela universidade e é bastante raro retirarmos uma amostra entre os estudantes sem detectar covid”, ele conta. “Ainda estamos sendo expostos por todo o tempo, mas a maioria das infecções simplesmente é atenuada.”
Deduzir qual é o motivo desta atenuação não é uma tarefa fácil.
Sato explica que uma das razões que fazem com que as novas variantes da covid, muitas vezes, pareçam muito mais assustadoras do que são na realidade é o fato de que a virulência é tipicamente testada por meio da injeção do vírus em hamsters. “Mas é claro que os hamsters não foram vacinados.” As informações são da BBC News.