Nos últimos dois anos, três príncipes Sauditas que viviam na Europa desapareceram. Todos eram contrários ao governo saudita – e existem evidências de que foram sequestrados e levados de volta à Arábia Saudita. Depois disso, seu paradeiro se tornou um mistério.
Príncipe Sultan
Na manhã de 12 de junho de 2005, o príncipe saudita Sultan bin Turki bin Abdulaziz estava a caminho de um palácio nos arredores de Genebra, na Bélgica. O local pertencia ao seu tio, o rei Fahd, morto em 2005. Sultan havia sido convidado para um café da manhã com o filho favorito do rei, o Príncipe Abdulaziz.
Durante o café, Abdulaziz pediu que Sultan retornasse à Arábia Saudita, onde ele poderia resolver suas discordâncias sobre a liderança do país.
Quando Sultan recusou, seu primo saiu para fazer uma ligação. O outro homem na sala, o ministro para assuntos islâmicos, xeque Saleh al-Sheikh, também se retirou. Alguns minutos depois, homens mascarados surgiram, amarraram Sultan e injetaram um líquido em seu pescoço.
Inconsciente, ele foi levado para o aeroporto de Genebra e colocado em um avião particular.
Anos depois, já exilado, Sultan fez um relato do episódio para uma corte na Suíça.
Mas o que o príncipe Sultan havia feito para sua própria família tê-lo drogado e raptado tão violentamente?
No ano anterior, ele tinha ido à Europa para um tratamento médico e havia começado a dar entrevistas nas quais fazia críticas ao governo saudita. Ele condenava o histórico do país em abusos de direitos humanos, condenava a corrupção entre príncipes e oficiais, e propunha uma série de reformas.
O país é governado por uma monarquia absolutista desde que foi fundado, em 1931, pelo rei Abdulaziz, conhecido Ibn Saud.
Príncipe Turki
Com um alto cargo dentro da polícia saudita, o príncipe Turki bin Bandar chegou a ser responsável pela segurança da família real. No entanto, depois de uma disputa familiar acirrada sobre a herança, acabou sendo colocado na prisão. Quando conseguiu sair, fugiu para a França, onde começou a postar vídeos no YouTube pedindo por reformas na Arábia Saudita.
Os sauditas reagiram com a mesma atitude que tiveram com o príncipe Sultan: tentaram convencer Turki a retornar. Quando o ministro do interior, Ahmed al-Salem, ligou, o príncipe gravou a conversa e colocou na internet.
O príncipe continuou publicando vídeos até julho de 2015. Depois, em algum momento do ano seguinte, ele desapareceu.
Ainda não se sabe com certeza o que aconteceu com Turki bin Bandar. Antes de seu desaparecimento, ele deu a seu amigo Wael a cópia de um livro que ele havia escrito, na qual ele deixou uma nota:
“Querido Wael, essa declaração não deve ser compartilhada a não ser que eu seja sequestrado ou assassinado. Eu sei que eles vão me raptar ou me matar. Também sei que vão abusar dos meus direitos e dos direitos do povo saudita.”
Príncipe Saud
Na mesma época em que o príncipe Turki sumiu, outro membro da realeza, Saud bin Saif al-Nasr, também desapareceu. Ele tinha relativamente pouca importância dentro da família e um gosto por cassinos europeus e hotéis caros.
Em 2014, Saud começou a postar críticas à monarquia saudita no Twitter. Ele pedia que os oficiais que haviam apoiado a queda do presidente egípcio, Mohammed Morsi, fossem processados.
Outro dissidente, o príncipe Khaled bin Farhan, que fugiu para a Alemanha em 2013, acredita que Saud foi enganado e convencido a embarcar em um vôo de Milão para Roma para discutir um negócio com uma companhia Russo-Italiana que queria abrir filiais no golfo.
Já o príncipe Sultan, que estava acima na hierarquia da família real, vivia entre a cadeia e a prisão domiciliar. Mas quando sua saúde começou a se deteriorar, em 2010, ele recebeu permissão para buscar tratamento médico em Boston, nos EUA.
Na segurança do exílio, ele entrou com uma ação criminal na justiça da Suíça acusando o príncipe Abdulaziz e o xeque Saleh al-Sheikh de responsabilidade por seu sequestro em 2003.
Foi a primeira vez que um membro importante da realeza entrou com uma ação criminal contra outro familiar, ainda por cima em uma corte ocidental.
Em janeiro de 2016, Sultan estava em Paris e foi convencido a embarcar em um avião.
Ele planejava visitar seu pai e apesar do que havia acontecido com ele em 2003, Sultan aceitou. O avião decolou com os monitores dizendo que o destino era o Cairo.
Quando ficou evidente que estavam prestes a pousar na Arábia Saudita, Sultan começou a socar a porta da cabine do piloto e gritar por ajuda.
De acordo com os relatos, os soldados e os tripulantes arrastaram Sultan para fora do avião. Ele gritava para que seus funcionários ligassem para a embaixada americana.
O príncipe e seus médicos foram levados para uma vila e ficaram sob vigilância armada. Depois desse evento, não houve mais notícias do príncipe Sultan. (BBC)