Atualmente, o mundo da tecnologia se divide entre os pessimistas e os otimistas da inteligência artificial (IA). O primeiro grupo acredita que a tecnologia pode levar à destruição da humanidade, enquanto o segundo prevê enormes benefícios para a sociedade. James Manyika, vice-presidente sênior de pesquisa, tecnologia e sociedade do Google, está no segundo grupo.
Isso, porém, não significa que o pesquisador nascido no Zimbábue não descarte a necessidade de medidas preventivas em relação à tecnologia. Considerado uma das 100 pessoas mais importantes em IA pela revista Time, ex-membro do governo de Barack Obama e parte do conselho da ONU para IA, Manyika destaca a necessidade de ação de governos e empresas no campo da IA, inclusive para destravar os benefícios prometidos pela tecnologia. Sem isso, é possível que o mundo sofra as consequências negativas e não desfrute do potencial positivo.
Manyika falou sobre os problemas e oportunidades da IA – destacou principalmente a importância de governos agirem proativamente em relação à tecnologia.
Pessimista ou um otimista?
Sou otimista, mas parte do meu otimismo vem do fato de que temos de fazer as coisas direito. Não podemos ser apenas otimistas e supor que tudo acontecerá de forma mágica. O que motiva muitos de nós são as possibilidades extraordinárias que vemos para as pessoas, a sociedade, a economia e tudo mais. Mas, ao mesmo tempo, é importante também prestar atenção ao fato de que existem algumas complexidades e riscos. Portanto, acho que meu otimismo vem acompanhado de uma exigência de que também sejamos responsáveis pela forma como buscamos as incríveis oportunidades no horizonte.
Benefício à humanidade
AGI é a ideia de criar sistemas de IA muito amplos. Criar sistemas capazes de muitas maneiras, que possam nos ajudar a resolver os desafios da sociedade, é uma meta que vale a pena. Muitos em IA foram motivados pelo desejo de resolver problemas, como sistemas capazes de ajudar a solucionar as mudanças climáticas, a solucionar o problema da saúde, e muitos outros. Estou realmente empolgado com a jornada para tentar criar sistemas com capacidade geral, mas isso tem um motivo. É para que possamos, de fato, resolver os desafios da sociedade e fazer coisas úteis.
Problemas da IA
Penso nas complexidades e nos riscos em algumas categorias. Primeiro, temos de resolver o que considero problemas de desempenho. Nenhum de nós se propôs a criar sistemas que sejam enviesados ou inseguros, e temos de abordar as possibilidades de resultados que são desse jeito. Em segundo lugar, penso nas possibilidades de usos ruins. Mesmo que os sistemas funcionem bem, você pode imaginar que eles sejam mal aplicados. E você também pode imaginar alguém deliberadamente fazendo mau uso deles. Portanto, o uso e a aplicação indevidos são outra complexidade. E a terceira coisa em que temos de pensar é como tudo isso vai se espalhar pela sociedade. Temos de pensar sobre o impacto no mercado de trabalho, e parte disso é complexo.
Aumento da desigualdade
Devemos aplicar a IA para superar barreiras. Certos grupos enfrentam barreiras sobre oportunidades de emprego e oportunidades de empreendedorismo. Acredito que, sempre que pudermos, devemos expandir a inovação. Essa é uma das coisas em que acredito e que acho que os reguladores precisarão pensar, principalmente para os países do Sul global – e eu cresci no Sul global. Tudo o que pudermos fazer para possibilitar que empreendedores usem tecnologia para participar e inovar será parte da forma como reduziremos a desigualdade global.
Países em desenvolvimento
Acho que devemos ter parcerias. Estou animado, por exemplo, com o fato de termos um centro de desenvolvimento de produtos em Belo Horizonte. Quanto mais pudermos ter inovação e o desenvolvimento no Sul global, melhor. Acredito também que uma regulamentação que possibilite e crie incentivos para que as pessoas invistam e participem, e não bloqueie a inovação, é uma coisa boa. Às vezes, reguladores esquecem que as grandes empresas podem lidar com a regulamentação.
Um dos aspectos complexos da IA é que os custos de computação costumam ser muito altos, o que dificulta a participação. Acredito que os governos – a propósito, os EUA também estão tentando fazer isso – precisam criar recursos nacionais de computação que permitam que pesquisadores e empreendedores possam trabalhar.