O mundo está longe de atingir as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris, pacto firmado entre 195 países contra as mudanças climáticas, e restringir o aquecimento global em 1,5º C em relação aos níveis pré-industriais até ao fim do século. Mas, se mantidas as políticas climáticas hoje em curso, a temperatura deve subir 2,8º C (também em comparação com o período anterior à Revolução Industrial).
O alerta aparece no Relatório de Lacuna de Emissões, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). O documento afirma que apenas uma ampla mudança nesse caminho poderia evitar o desastre climático decorrente de um mundo mais quente.
O relatório do Pnuma exemplifica e detalha o tamanho do problema, além de sugerir possíveis saídas para evitar o pior. Um dos pontos críticos é a defasagem entre o que os países se comprometeram a fazer e o que, de fato, vem implementando. Desde a Cúpula do Clima (COP-26), em Glasgow, em 2021, os compromissos voluntários assumidos pelas nações para cortar emissões foram responsáveis por remover apenas 0.5 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e) da atmosfera.
Isso é menos de 1% das emissões que devem ser lançadas na atmosfera em 2030, data limite em que países como o Brasil e os Estados Unidos devem cortar 50% de suas emissões. A União Europeia tem meta de diminuir em 55%. “Os compromissos climáticos de neutralidade de carbono não valem nada sem planos, políticas e ações que os respaldem”, alertou o secretário geral da ONU, António Guterres. “Em outras palavras, nos dirigimos a uma catástrofe global.”
Conforme o Pnuma, a maior parte dos países do G-20 começou recentemente a implementar planos de redução. Coletivamente, é esperado que a meta não seja atingida sem que haja uma mudança muita expressiva de rumo. Ou seja, em oito anos é preciso fazer o que não foi feito desde o Acordo de Paris, de 2015, e após a COP26. O Brasil é considerado um ator importante na batalha para evitar a catástrofe climática, diante do peso do desmatamento da Amazônia na alta de emissões.
Especialistas apontam que manter a floresta em pé é uma das medidas mais viáveis para conter rapidamente as mudanças climáticas sem a necessidade de investimentos gigantescos ou perdas de Produto Interno Bruto (PIB). Isso porque as atividades que levam à destruição da floresta, como o garimpo ilegal e a venda irregular de madeira, são pouco relevantes para a balança comercial brasileira.
Nos últimos anos, porém, o bioma tem visto uma escalada das taxas de devastação e dos incêndios. Representantes estrangeiros também ameaçam impor sanções aos produtos do agronegócio brasileiro ou exigir certificados de origem limpa como forma de pressionar pela queda no desmate.
Caminho
Para atingir as metas e entrar no caminho, o relatório aponta medidas a serem adotadas na cadeia de geração de energia, indústria do transporte, construção, alimentação e no sistema financeiro internacional. O setor energético é onde estão algumas das maiores oportunidades, com a perspectiva gradual de redução dos custos de investimentos em fontes renováveis e sustentáveis, como energia solar e eólica.
Entre todos os setores, as principais ações para avançar na transformação incluem medidas como evitar ficar preso ao desenvolvimento de novas infraestruturas baseadas em combustíveis fósseis, avançar nas tecnologias de carbono zero, estruturas de mercado e planejamento para uma transição justa, aplicar tecnologias de emissão zero de gases de efeito estufa e estimular mudanças comportamentais para sustentar essa transição.
As transformações que podem ser implementadas no setor de produção de alimentos, responsável por cerca de um terço do total de emissões globais, podem fazer com que chegue a 2050 com emissões em nível 33% menor que as atuais. Não fazer nada, no entanto, resultará em quase o dobro de geração de gases do efeito estufa em relação aos níveis atuais.
Custo
Espera-se que a transformação global para uma economia de baixo carbono exija investimentos de pelo menos US$ 4 trilhões a US$ 6 trilhões por ano.
Esta é uma parcela relativamente pequena (1,5% a 2%) do total de ativos financeiros administrados, diz o relatório, mas ainda assim mobilizar esses recursos exigirá mudanças fundamentais no mercado financeiro global.