Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Tito Guarniere | 15 de novembro de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Se você ler um autor de esquerda será levado a pensar que o capitalismo, ou a sua variante mais hedionda, o neoliberalismo, estão direcionando o mundo para o abismo da poluição, da pobreza e da desigualdade de renda, inexoravelmente. Há um esforço para provar que o sistema é intrinsecamente mau, não tem conserto nem como melhorar, restando a alternativa única de solução a mudança radical, o socialismo.
Claro que a convicção já não é a mesma dos anos da Guerra Fria, não é a mesma fé na Revolução, assim, com inicial maiúscula. E nem poderia ser depois da hecatombe do Leste Europeu, a queda do Muro de Berlim, o fim do socialismo real – e o subsequente desnudamento dos horrores e iniquidades produzidos pelo sistema durante sua vigência na Rússia e nos seus estados satélites.
A ideia da igualdade subsiste sob outras formulações, mal disfarçadas teorias que, de algum modo, tentam reavivar as bandeiras da esquerda, tais como a superioridade do Estado, a primazia das intenções sobre os resultados, e a teoria da maldade sem limites dos donos do capital.
E no entanto, a perspectiva pessimista da esquerda não sobrevive diante das estatísticas e dos fatos reais. O mundo não é, definitivamente, um inferno de sofrimento e privação.
Não, se olharmos a grande curva de evolução, se compararmos com épocas anteriores. As transformações que mudaram a vida sobre a terra, a extraordinária expansão dos bens e serviços que propiciam a atual estágio da história do planeta – agora menos pobre, menos doente e menos perigoso.
Não há a menor dúvida de que, observada certa linha do tempo, bilhões de pessoas que viviam na pobreza absoluta agora desfrutam ao menos do que comer, de casas para morar, de roupas para vestir, de sistemas públicos de assistência à saúde e de uma educação, sofrível embora, mas que antes não existiam. Notem que eu falei de bilhões, não de milhões de pessoas. Exagero:? Não. Números confiáveis, não contestados por ninguém, expostos por estudiosos acreditados, como Steve Pinker e Hans Rosling.
Se vocês se satisfizerem com um único dado, que pode ser constatado a olho nu, que se pode verificar nas nossas famílias, basta ver o aumento da expectativa de vida que experimentamos, e que é geral e universal – em todo o planeta, inclusive dos mais pobres da África, as pessoas vivem mais agora, muito mais, do que há 50 ou 100 anos.
Essas conquistas, foram alcançadas em boa parte – vejam só – nos anos de apogeu do neoliberalismo. Mas é claro que a esquerda continuará com o discurso alarmista, querendo mais em menor tempo, e desprezando a incremento gradativo de avanços, os quais só não ocorrem por culpa do capitalismo.
Não, não está tudo bem. Há nichos inteiros de dor e miséria. Há guerras indecorosas , como na Ucrânia, em Gaza, genocídios na África. Há milhares de sem teto em cidades ricas como São Paulo e Los Angeles. Há imigrações em massa de pobres famintos do continente africano para a Europa, do Haiti, da Venezuela e de Cuba para o Brasil e para a América. Há uma concentração de renda e de riqueza que beira a obscenidade. Muito foi feito – é preciso reconhecer – e ainda há muito por fazer.
titoguarniere@terra.com.br
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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