Domingo, 17 de novembro de 2024
Por Dennis Munhoz | 15 de dezembro de 2022
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Faz quase dois anos que o mundo foi surpreendido com o surto de covid-19, poucas informações, muita apreensão, medo e incerteza sobre o futuro. As poucas notícias sobre o vírus de origem chinesa eram truncadas e pouco confiáveis, mesmo porque a ditadura e controle da imprensa daquele País dificultavam substancialmente a divulgação da realidade dos fatos.
Provavelmente, foi nesta ocasião que o mundo e, principalmente os Estados Unidos, perceberam a enorme e perigosa dependência criada e alimentada por décadas com a China. Desde o final da década de 80, os norte-americanos optaram por transferir boa parte da produção industrial para o País asiático, levando em conta os custos e facilidade em mão de obra abundante, barata e sem o controle sindical. A Europa também foi parcialmente seduzida pelos mesmos motivos, todavia as consequências tardaram, mas estão aparecendo.
A produção de produtos industrializados foi quase que toda transferida dos Estados Unidos e Europa para os países asiáticos, principalmente a China, que abriu suas portas com aquilo que atrai o empresariado: mão de obra barata e abundante, implantação de plantas industriais sem burocracia, ausência de sindicatos e legislação trabalhista. A conta é simples: vale mais a pena produzir na China e importar o produto pronto que produzir no próprio País consumidor. Isto não ocorreu com apenas alguns produtos e sim com quase todos, de colheres a computadores, de cadeiras a instrumentos de precisão, de seringas a equipamentos hospitalares sofisticados.
Sabemos que excesso de impostos, legislação trabalhista arcaica e protecionista, muito poder delegado aos sindicatos e burocracia encarecem e até inviabilizam a produção industrial em muitos casos. Não adianta querer garantir todos os direitos possíveis e imaginários aos trabalhadores sem que ele tenha o essencial, o emprego. Como competir com a ditadura concorrente que tem tudo mais fácil, barato e abundante?
Em que pese as garantias trabalhistas nos Estados Unidos ser bem menor em comparação a Europa e outros países, o custo da mão de obra e negociações sindicais praticamente empurraram as indústrias para a China. Hoje temos verdadeiras cidades fantasmas espalhadas por Estados norte americanos onde havia emprego, prosperidade e orgulho para a população. A justificativa é bem simplória, é melhor mais americanos terem acesso aos produtos mais baratos que manter o emprego aqui com preço mais alto. Será?
Apesar do norte-americano ter abandonado há muitos anos a ideia de trabalhar em diversas atividades braçais, insalubres e de certa periculosidade, os imigrantes suprem muito bem estas lacunas. Até quando vamos assistir passivamente esta transferência de empregos e crescimento para a China?
O Presidente Biden está tentando timidamente diminuir esta dependência, fato que também o ex-presidente Trump sempre alardeou mas pouco conseguiu. Todos precisam focar no assunto, governo, sindicatos, empresários, trabalhadores e classe política. Esta acomodação começa a sofrer solavancos com ameaça de isolamento, fechamento de fábricas, portos e logística na China.
Milhares de novos casos de coronavírus têm surgido na China e, apesar dos protestos por parte da população, as autoridades isolaram cidades, portos e fábricas mantendo a política de covid zero. Foram obrigadas a abrir algumas exceções devido aos protestos da população, inéditos desde o massacre da Praça da paz Celestial em 1989. O mundo ficou apreensivo também pela condição sanitária, mas principalmente pela possibilidade de falta de produtos oriundos destas cidades e fábricas. Como reagiria a maior economia do mundo a nova escassez de produtos com a inflação batendo recordes e possibilidade de retração já neste último trimestre de 2022?
Mesmo que avaliemos o caso sem a catástrofe da covid-19, seria prudente deixar tanto poder de industrialização nas mãos de um País onde reina a ditadura do partido comunista? Será que o apoio da China à invasão Russa na Ucrânia teria tanta força não fosse esta dependência que foi criada? Provavelmente a economia chinesa vai superar a norte-americana nos próximos dez anos, mesmo com as crises imobiliárias e de liquidez da população. O PIB (Produto interno Bruto) chinês era de US$ 1,2 trilhões em 2000 e, vinte anos depois estava em US$ 15 trilhões. O PIB da China cresceu 100 vezes entre 1980 e 2022. A economia do Brasil em 1980 era maior que a chinesa, hoje representa menos de 20% dela.
A maior potência econômica e bélica do mundo ficou sem máscaras para a população quando do início da pandemia do covid-19. Os Estados Unidos tiveram que esperar a disponibilidade da China porque não tinham como produzir a curto prazo um produto tão simples. Faltou muita coisa aqui nos Estados Unidos quando a produção chinesa foi drasticamente diminuída e a inflação bateu recorde dos últimos quarenta anos.
Uma coisa é abrir mão da produção de alguns itens que podem ser produzidos do outro lado do mundo mais baratos, outra é aceitar e acomodar-se com esta competição injusta, cruel e perigosa.
Dennis Munhoz – advogado, jornalista e correspondente internacional da Rede Mundial e da Rádio Pampa.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.