O mundo deve ganhar 2 bilhões de pessoas nos próximos 30 anos, atingindo sua população máxima no fim do século e começando a se estabilizar apenas no século 22. É o que prevê um relatório da ONU lançado nesta segunda-feira (17), com projeções demográficas para o planeta até 2100./
De acordo com o documento, a população mundial, que é de 7,7 bilhões na atualidade, continua crescendo, ainda que no ritmo mais lento desde 1950: a taxa, que atualmente é de 1,1% ao ano, deve chegar a 0,4% perto do fim do século. A previsão é que a população mundial chegue a 9,7 bilhões em 2050 e a quase 11 bilhões em 2100.
O relatório, chamado World Population Prospects (prospecções da população mundial), é lançado a cada dois anos pela divisão de população da ONU e traz análises para 235 países e áreas, baseadas em informações de censos nacionais, pesquisas por amostragem e tendências históricas.
São projeções, ou seja, tendências demográficas que estão sujeitas a alterações, pois dependem de mudanças tecnológicas, avanços médicos, condições políticas e costumes, que podem se alterar de forma imprevisível.
Para prever a população no fim do século, a ONU trabalha com três cenários: no de projeção alta, o mundo teria 15,6 bilhões de habitantes em 2100; no mais conservador, ficaria em 7,32 bilhões e, no médio -o mais provável de ocorrer-, chegaria a 10,8 bilhões.
Na projeção anterior, em 2017, previa-se uma população de 11,18 bilhões em 2100 (ou seja, cerca de 300 milhões a mais do que se acredita agora).
“Essa diferença se deve principalmente a revisões em taxas de fecundidade recentes e esperadas no futuro em vários países maiores, como Bangladesh, República Democrática do Congo, Índia e Estados Unidos”, disse à reportagem Patrick Gerland, chefe da seção de estimativas e projeções de população da ONU.
“Mudanças nesses países têm sido um pouco mais rápidas do que se acreditava.”
De acordo com o novo relatório, metade dos novos habitantes do mundo até 2050 virão de apenas nove países, a maioria pobres ou em desenvolvimento: Índia, Nigéria, Paquistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Tanzânia, Indonésia, Egito e EUA.
Entre as grandes regiões, a África Subsaariana deve dobrar sua população nos próximos 30 anos, enquanto, na outra ponta, a Europa e a América do Norte terão aumento de apenas 2% de sua população. O crescimento previsto nesse mesmo período para a América Latina e o Caribe é de 18%.
Por volta de 2027, a Índia deve ultrapassar a China como o país mais populoso do mundo -alguns anos depois do que se imaginava anteriormente. “A taxa de fecundidade na Índia caiu um pouco mais rapidamente do que se imaginava, e a fecundidade na China cresceu mais do que o esperado devido ao fim da política do filho único e a alguns incentivos para a população ter mais filhos”, afirma o pesquisador e doutor em demografia José Eustáquio Alves, que analisou os dados.
“Esse ranking vai mudar muito. Estão saindo os países mais desenvolvidos e começam a entrar os mais pobres, como a República Democrática do Congo, que vai crescer absurdamente, a Etiópia, a Tanzânia”, observa o pesquisador.
Ele chama a atenção também ao caso de Angola, que deve ter sua população multiplicada por 11 ao longo deste século -de 16,4 milhões para 188 milhões-, chegando ao 11º lugar no ranking, na frente do Brasil.
Mais idosos que crianças
Em 2018, pela primeira vez o número de pessoas com mais de 65 anos ultrapassou o de crianças com menos de 5.
Se atualmente 1 em cada 11 pessoas no mundo tem mais de 65 anos, em 2050 deve chegar a 1 em cada 6 -no caso da Europa e da América do Norte, deve ser de 1 para cada 4.
A expectativa de vida média da humanidade, que era de 64,2 anos em 1990, subiu para 72,6 neste ano e acredita-se que chegará a 77,1 anos em 2050.
Porém, nos países menos desenvolvidos as pessoas vivem cerca de sete anos menos do que a média global, devido à alta mortalidade materna e infantil, violência e infecção por HIV, entre outros fatores.
A queda no número de pessoas em idade ativa e o aumento na proporção da população em idade dependente deve gerar desafios para “o mercado de trabalho e a performance econômica” de diversos países, assim como dificuldades para “construir e manter sistemas públicos de saúde, pensões e proteção social para pessoas mais velhas”, alerta o relatório.
Outro fator que contribui para o envelhecimento da população mundial é que as mulheres estão tendo menos filhos. O estudo comprova essa tendência, mostrando que taxa de fecundidade, que era de 3,2 filhos por mulher em 1990, baixou para 2,5 em 2019 e deve chegar a 2,2 em 2050.
A taxa necessária para repor naturalmente a população (desconsiderando fatores como a imigração) é de ao menos 2,1. Atualmente, quase metade das pessoas vive em países com índice abaixo disso.