O museu do Louvre, em Paris decidiu cancelar a exibição de uma escultura no Jardim das Tulherias duas semanas antes da estreia. O diretor do museu, Jean-Luc Martinez, considerou que a obra “Domestikator”, do coletivo holandês Atelier Van Lieshout, “tem um aspecto brutal”.
“Há um risco dela não ser compreendida pelos visitantes dos jardins”, disse Martinez ao jornal francês Le Monde. O Museu D’Orsay, por outro lado, retomou a campanha “Tragam seus filhos para ver gente nua“, que fez sucesso em 2015.
Os organizadores da feira de arte contemporânea, que vai ocupar o jardim, criticaram a decisão, argumentando que ela “prejudica os artistas e a programação (do evento)”. Segundo eles, a peça “simboliza o poder da humanidade sobre o mundo e sua abordagem hipócrita da natureza”.
“Isso é algo que não deveria acontecer. Um museu deveria ser um local aberto de comunicação. O papel do museu e da imprensa é explicar o trabalho”, disse Joep van Lieshout, fundador do coletivo, ao “New York Times”. “A peça em si não é muito explícita. É uma forma abstrata, não há genitais. É bastante inocente.”
A escultura por um lado lembra um prédio com janelas, mas também mostra um homem em forma de caixas durante o ato sexual com outra pessoa. Com de 12 metros e 30 toneladas, ela ficou em exposição na Alemanha nos últimos três anos e deveria chegar a Paris no dia 19 de outubro.
No Brasil. a representação e participação de crianças em exposições de arte com nudez ou teor sexual causaram violentas reações nas últimas semanas. Após anunciar que pretendia trazer a exposição “Queermuseu”, censurada em Porto Alegre, ao Rio, o MAR desistiu a pedido do prefeito Marcelo Crivella. Em São Paulo, uma performance com um artista nu também gerou críticas e está sendo investigada pelo MP.
Museus se posicionam
Menos de um mês após o Santander Cultural, em Porto Alegre, cancelar a exposição “Queermuseu”, por pressão de pessoas que se diziam contrárias às cenas de “pedofilia, zoofilia e blasfêmia” expostas nas obras, museus e centros culturais tornaram-se alvo de ataques e manifestações inflamadas. Curadores, artistas e funcionários estão recebendo ameaças anônimas, xingamentos e agressões (físicas até). Fake news proliferam pelas redes sociais. Um fato inusitado resultou em protestos no MAM “errado”: manifestantes foram ao do Rio, quando o caso era em São Paulo.
Diante de tudo isso, as principais instituições ligadas ao setor divulgaram nesta terça-feira uma carta com 73 assinaturas. Num dos trechos, o documento diz: “Resistiremos a esse trágico e obscuro momento no que se refere ao respeito mútuo e à garantia da liberdade de expressão”. Do outro lado, Gaudêncio Fidélis, curador de “Queermuseu”, foi convocado a prestar esclarecimentos na CPI dos maus tratos contra crianças e adolescentes.
Depois da exposição em Porto Alegre, a Polícia Civil de Campo Grande (MS) apreendeu a tela “Pedofilia”, em que a artista Alessandra Cunha retratava uma criança assustada diante de um homem nu. Exposta no Museu de Arte Contemporânea do Mato Grosso do Sul, a obra foi recolhida atendendo a um grupo de deputados estaduais que registrou “boletim de ocorrência” contra ela. Após mais lenha na fogueira, na semana passada a performance “La bête”, de Wagner Schwartz, realizada dias antes, na abertura do “35º Panorama de Arte Brasileira”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, virou centro da polêmica.
Nela, o artista, nu, manipula uma réplica de um “Bicho”, de Lygia Clark (1920-1988), e deixa seu corpo disponível para que o público interaja da mesma forma com ele. Na ocasião, uma criança, acompanhada da mãe, tocou pés e mãos do artista. O vídeo com esse trecho circulou rapidamente pela internet, fazendo com que muitas pessoas protestassem contra artista, instituição e mãe. O imbróglio foi parar na Justiça, e o Ministério Público de São Paulo anunciou na última terça-feira que vai abrir inquérito civil para apurar se o museu expôs “crianças e adolescentes a conteúdo impróprio”.