Museu mais visitado do mundo, com quase 10 milhões de pessoas por ano, principalmente estrangeiros, o Museu do Louvre, em Paris (França), está lutando contra o fechamento mais longo desde a Segunda Guerra Mundial (1938-1945). As restrições da pandemia mantêm os trancados a sete chaves os seus tesouros, como a célebre “Mona Lisa”, de Leonardo Da Vinci.
No entanto, sem as multidões que podem chegar a 40 mil pessoas por dia, os funcionários do museu estão aproveitando uma oportunidade de ouro para fazer uma grande reforma para quando os visitantes retornarem.
“No caso de alguns projetos, o bloqueio nos permitiu fazer em cinco dias o que antes levaria cinco semanas”, disse Sébastien Allard, curador geral e diretor do departamento de pinturas do Louvre.
Os amantes do Louvre tiveram de se contentar em ver as obras-primas durante a pandemia por meio de tours virtuais e das hashtags #LouvreChezVous e @MuseeLouvre.
Milhões de espectadores ganharam um prêmio espetacular com a série de sucesso da Netflix “Lupin”, na qual o ator Omar Sy, interpretando um ladrão cavalheiro, atua em cenas cheias de ação nas galerias mais conhecidas do Louvre e sob a pirâmide de vidro projetada pelo arquiteto chinês I.M. Pei.
Mas a realidade virtual dificilmente consegue substituir a coisa real. As autoridades do Louvre esperam que o governo reabra as instituições culturais ao público em breve, embora a data dependa do curso do vírus.
Enquanto isso, um pequeno exército de cerca de 250 artesãos está trabalhando desde a entrada em vigor do último bloqueio da França, em 30 de outubro.
Em vez de esperar a terça-feira – o único dia em que o Louvre costumava fechar –, curadores, restauradores, conservadores e outros especialistas estão trabalhando com afinco cinco dias por semana para concluir as grandes reformas que começaram antes da pandemia e introduzir novos embelezamentos que esperam terminar até meados de fevereiro.
Parte do trabalho é relativamente simples, como tirar o pó das molduras de quase 4.500 quadros. A outra é hercúlea, como a reforma no salão de antiguidades egípcias e na Ala Sully. Quase 40 mil placas explicativas em inglês e em francês estão sendo penduradas ao lado das obras de arte.
Mesmo antes da pandemia, o Louvre estava analisando com seriedade o gerenciamento de multidões porque o turismo em massa significava que muitas galerias ficavam lotadas de grupos de turistas.
Embora as restrições de viagem tenham reduzido o número de visitantes, o museu, quando for reaberto, vai limitar a entrada dos portadores de ingresso com reserva, para atender aos protocolos de saúde.
Outras mudanças estão planejadas – como novas experiências interativas, incluindo sessões de ioga a cada meia hora às quartas-feiras perto das obras-primas de Jacques-Louis David e Peter Paul Rubens, e workshops com atores representando as cenas de quadros famosos bem em frente à tela.
Eventos
A pandemia também causou estragos no planejamento de exibições especiais. O Louvre empresta cerca de 400 obras por ano a outros museus e recebe vários empréstimos para mostras especiais.
“É realmente complicado, porque todos os museus do mundo estão em processo de mudança de planejamento”, comentou Allard.
Enquanto os governos ordenam novas restrições para conter o ressurgimento do vírus, programas especiais estão sendo adiados. Um empréstimo reservado para exposições em vários museus pode ficar retido, tornando difícil entregar as obras de arte prometidas, observou o curador.
Em um pequeno carrinho de metal, o autorretrato de um jovem Rembrandt, resplandecente, usando uma vistosa boina preta, um colar de ouro grosso e um sorriso confiante, descansava em uma moldura oval ornamentada.
Ali perto, trabalhadores escalavam um andaime rolante para remover uma enorme pintura de Vênus pedindo armas a Vulcano, de autoria de Anthony van Dyck. Destinada a uma exposição em Madri, a pintura foi levada pelos corredores holandeses, passando pelo astrônomo de Johannes Vermeer estudando um astrolábio antes de ser fixada em frente a uma pequena porta na sala de Rubens.
“A Covid foi uma força maior. No momento, temos tantos pontos de interrogação e é difícil saber qual será a situação em dois, três ou quatro meses. Mas, a despeito da Covid, continuamos trabalhando como sempre. Devemos estar prontos para receber o público de volta”, frisou Allard, enquanto duas pinturas holandesas eram içadas para substituir o Van Dyck.