Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 22 de novembro de 2024
Após a visita oficial a Brasília do presidente da China, Xi Jinping, ter terminado sem adesão formal do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), foi reaberta uma discussão que se arrasta há alguns anos: o país deveria ou não aderir ao programa chinês de investimentos no exterior? Afinal, já foram investidos mais de US$ 1 trilhão. E o Brasil tem, ao mesmo tempo, infraestrutura carente e escassez de recursos para investir.
Nos bastidores, a diplomacia brasileira sugeriu cautela, diante do risco de uma adesão pegar mal com aliados ocidentais, sobretudo os EUA, enquanto analistas reconheceram que, mesmo fora da BRI, o Brasil recebe investimentos bilionários do gigante asiático.
A BRI foi lançada em 2013, início do mandato de Xi. É a principal marca da política externa e comercial da China. O nome do programa é a abreviação de outras iniciativas — Cinturão Econômico da Rota da Seda e Rota da Seda Marítima do Século XXI.
A referência é a Rota da Seda, como ficaram conhecidas as estradas que, há cerca de 2 mil anos, conectavam o Império Romano à China — o tecido valorizado foi inventado pelos chineses e atraiu o desejo dos europeus quando chegou por lá.
O governo chinês não divulga números oficiais consolidados, mas, segundo o Centro de Finanças Verdes e Desenvolvimento da Universidade Fudan, em Xangai, de 146 a 151 países, dependendo do estágio do processo de adesão, já fazem parte. Segundo o Monitor do Investimento Global da China, do Instituto da Empresa Americana, o programa já investiu US$ 1,029 trilhão.
O lançamento e o crescimento da BRI devem ser entendidos no contexto do processo de desenvolvimento econômico e projeção geopolítica da China, disse Larissa Wachholz, sócia da consultoria Vallya Participações e pesquisadora do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), que é especialista nas relações sino-brasileiras. No processo, que ocorreu nas economias hoje ricas, investir no exterior é uma etapa.
No caso da China, o crescimento econômico dos últimos 40 anos teve como motores a construção de infraestrutura e a produção manufatureira para exportação. Hoje, a China é a fábrica do mundo, tem procurado posicionar sua produção no sentido da alta tecnologia, mas segue de olho na demanda externa.
Na infraestrutura, após construir rodovias, ferrovias, trens de alta velocidade, metrôs, portos e aeroportos, primeiro no território chinês, chega o momento em que é preciso buscar demanda no exterior.
“Chega um ponto em que a economia é muito grande, e as empresas de um país buscam contratos no exterior”, disse Larissa.
Novos mercados
Assim, a BRI serve, inicialmente, para fomentar e abrir mercados a operadoras e construtoras chinesas de infraestrutura. E faz sentido que as operações sejam voltadas para conectar logisticamente a China a outros países — como a Rota da Seda da Antiguidade fazia —, facilitando o escoamento da produção industrial chinesa, motor da economia.
Um exemplo da BRI é a construção do Porto de Chancay, no Peru. Antes de vir ao Brasil para a cúpula do G20, no Rio, e da visita a Brasília, Xi passou por lá para inaugurar o terminal, que permitirá a conexão da América do Sul com a China, via Pacífico, em 23 dias e a um custo 20% menor, segundo a agência de notícias Xinhua.
O projeto é da chinesa Cosco, gigante do transporte marítimo, e já recebeu US$ 1,3 bilhão de um total de US$ 3,5 bilhões de investimentos.
Integrantes
Nos cerca de 150 integrantes da BRI, estão praticamente todos os países da América do Sul — só Brasil, Colômbia e Paraguai (este último não tem relação diplomática com a China) estão de fora. A Índia está de fora, mas tem fronteira com a China e as relações têm tensões específicas, disse Larissa.
Embora os países mais ricos, em geral, estejam de fora, 17 membros da União Europeia fazem parte, como Portugal e Luxemburgo, segundo a Universidade Fudan. A Itália chegou a aderir, mas deixou a iniciativa em 2023.