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Por Redação O Sul | 24 de abril de 2019
Os números, claro, ligam o alerta. Na manhã de segunda-feira, Dani Lins usou as redes sociais para anunciar seu pedido de dispensa da seleção brasileira. Mais tarde, em nota oficial publicada em seu site, a Confederação Brasileira de Voleibol divulgou que Gabi Cândido, jovem ponteira do Sesi-Bauru, havia feito o mesmo. As duas se juntaram a outras quatro jogadoras que seguiram o mesmo caminho. A pouco mais de um ano dos Jogos de Tóquio, Camila Brait, Thaísa, Adenízia e Tássia também preferiram dizer não ao chamado de José Roberto Guimarães. Ainda que os motivos possam ser legítimos, a debandada ganha ares de boicote e exige, ao menos, uma reflexão. No vácuo de cada ausência, fica a pergunta: por quê?
Em 2008, a alguns meses da convocação para a Olimpíada de Pequim, Fernanda Venturini procurou Zé Roberto. Estava sem jogar havia um ano, mas queria voltar à seleção para buscar o sonhado ouro olímpico. Pelo talento da levantadora, uma das melhores da história, o técnico balançou. Pesou, no entanto, a necessidade de ter o grupo em suas mãos. Disse não à veterana e bancou Fofão e Carol Albuquerque, que levariam o Brasil pela primeira vez ao alto do pódio em uma Olimpíada. Eram outros tempos.
Com a queda precoce nas quartas de final dos Jogos do Rio, muitos enxergaram uma necessidade de renovação na seleção. O caminho foi aberto com o adeus de Sheilla, Fabiana e Fernanda Garay à equipe – Fabi havia feito o mesmo dois anos antes. Zé, então, começou a fazer suas experiências logo no primeiro ano do novo ciclo. Queria testar algumas promessas e outras jogadoras que ainda não haviam tido chances com o treinador. A tal renovação, porém, não se firmou.
Nos anos seguintes, algumas jogadoras lidaram com problemas físicos, como Natália, Gabi e Thaísa. Outras precisaram se afastar por escolhas pessoais, como Dani Lins, mãe pela primeira vez. Sem alguns de seus pilares dentro de quadra, Zé Roberto teve problemas para encontrar substitutas. Tinha o Mundial pela frente – e a pressão pela busca de um título que o Brasil ainda não tem.
Zé, então, chamou suas veteranas, ainda que longe de seus melhores dias. Até Jaqueline foi testada como líbero, sem muito sucesso. O técnico, porém, quis arriscar. No Japão, Thaísa e Dani Lins não conseguiram voltar ao auge a tempo, assim como Fernanda Garay. O retorno da ponteira era a grande esperança do treinador para o Mundial. As apostas, para o azar de Zé e da torcida, não funcionaram, e o apego a alguns nomes cobrou um preço. O sétimo lugar escancarou os problemas da equipe.
Faltam peças em algumas posições. Como uma oposta que consiga ser opção para o lugar de Tandara, tão explorada justamente por não ter substituta à altura no momento. Ou uma líbero para fazer frente a Suellen. A um ano dos Jogos, já não há tanto espaço para testes. Há, é claro, o desgaste natural do tempo. Desde 2003 à frente da seleção, o vitorioso Zé Roberto havia previsto sua despedida no Rio. A sofrida queda dentro de casa o fez adiar os planos, mas também prolongou uma relação que já não é tão simples quanto antes.
Para uma seleção que sonha com o tricampeonato em Tóquio, o ano pré-olímpico talvez seja tão importante quanto o da própria Olimpíada. Quando seis jogadoras pedem dispensa, é preciso entender o porquê. Algumas citaram escolhas pessoais, outras problemas físicos. É difícil acreditar que Zé Roberto não soubesse das decisões. Ao bancar a convocação, parece ter ficado à espera de respostas públicas.