Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 3 de agosto de 2015
Em passagem pelo Brasil, Max Schwitalla, arquiteto alemão que estuda “montanhas-russas” viárias para repensar a mobilidade urbana critica o planejamento das cidades da forma como é feito.
Como você analisa hoje a estrutura das cidades?
Max Schwitalla – Atualmente, tem-se a ideia de que as cidades são os locais mais importantes do planeta, por sua concentração populacional. Mas o que a maior parte dos designers urbanísticos faz hoje é tentar se certificar de que os carros possam percorrer esses espaços, e, os arquitetos, que os elevadores estejam “bem embrulhados”. Ou seja, construímos cidades para carros e elevadores. Precisamos repensar se esse é o modelo que mais desejamos.
Como mudar isso?
Schwitalla – Primeiro, através de um reconhecimento dessa realidade por todos. Os carros estão isolando as pessoas umas das outras, e se tornando uma dor de cabeça brutal. Assim, espero que não seja só a arquitetura que traga as mudanças, mas que elas partam das próprias pessoas.
Quão grande é o desafio da mobilidade nas cidades?
Schwitalla – Definitivamente, é um dos principais, à medida que nossas vidas se tornam fisicamente mais ou menos móveis. Viemos para as cidades para encontrar com outras pessoas. Se eu não consigo ir do ponto A ao ponto B, o conceito de cidade fracassa.
Qual é a solução, então?
Schwitalla – Acredito que as principais tecnologias que impulsionam a mudança não são aquelas ligadas à mobilidade em si, como carros, mas sim as móveis e digitais, como as que permitem compartilhar carros, por exemplo. Além disso, a macromobilidade está se tornando cada vez mais importante, com scooters e bicicletas elétricas. Temos um projeto baseado em um estudo com montanhas russas. A ideia é que se você tem um morro e o asfalto, pode ligá-los por meio de um sistema que passa por cima das favelas e, depois, por debaixo da terra.
O que despertou sua paixão por este viés da arquitetura?
Schwitalla – Aos 14 anos aprendi a ler a cidade de uma forma completamente diferente andando de skate: para o skatista, os elementos considerados obstáculos à mobilidade se tornam oportunidades para fazer manobras. Esta leitura tridimensional do espaço me ensinou a vê-lo por meio do movimento. Essa é minha paixão por trás do urbanismo: o modo como nos movemos pela cidade informa e molda o design urbano.
O que chamou a sua atenção no Brasil desde a sua última visita, há dez anos?
Schwitalla – Posso ser sincero? As pessoas estão mais gordas. Não sei o que acontece. Por isso devemos colocar as pessoas em foco, e não os carros e elevadores.
Qual imagem passou a ter de nós após namorar uma brasileira por quatro anos?
Schwitalla – O que aprendi a partir da convivência com ela e os seus amigos, uma geração jovem de fotógrafos, arquitetos e artistas, foi uma grande ambição em trazer uma escala humana ao seu trabalho. Essa para mim é a beleza do jeito brasileiro de pensar: vocês tem um ponto de vista menos tecnológico, e mais humano.
Qual é a sua cidade favorita?
Schwitalla – Barcelona (Espanha). Por causa da sua mobilidade, mas também por reunir de forma harmoniosa um certo hedonismo, uma escala humana, uma identidade cultural e uma beleza, mesmo com a presença de um poder econômico por trás disso. (Thiago Jansen/AG)