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O novo aumento da taxa básica de juros da economia é motivo de incerteza e preocupação para o agronegócio, avaliam representantes do setor

O aumento da Selic tende a elevar o custo dos financiamentos e coloca pressão sobre o governo nas discussões do Plano Safra 2025/26. (Foto: Reprodução)

O novo aumento da taxa básica de juros da economia é motivo de incerteza e preocupação para o agronegócio, avaliam representantes do setor. A Selic, que passou a ser de 13,25% ao ano, conforme decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na quarta-feira (29), tende a elevar o custo dos financiamentos e coloca pressão sobre o governo nas discussões do Plano Safra 2025/26.

Foi a quarta elevação seguida na taxa de juros e a primeira com a autoridade monetária sob a presidência de Gabriel Galípolo. A decisão do Copom, esperada pelo mercado financeiro, foi unânime por um aperto monetário de 1 ponto percentual.

O economista-chefe da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz, observou que, para o agronegócio, o novo aperto monetário traz dois problemas. O primeiro é o efeito sobre o custo de capital para o produtor rural financiar sua produção.

“Os impactos dos juros no custo são enormes”, resumiu o economista-chefe da Farsul. Com a escassez de recursos do Tesouro para equalizar taxas nas linhas de crédito oficiais, a alternativa é o financiamento a juros livres — geralmente, mais elevados.

O segundo problema, segundo ele, é que o desequilíbrio nas contas públicas contribui com a alta da inflação, inclusive a de alimentos. “E o governo que causa a inflação busca explicações no setor, quando deveria buscá-las na execução orçamentária”, criticou.

Ele disse que não se surpreendeu com a medida e lembrou que, ainda em 2024, o Copom já havia indicado a possibilidade de pelo menos mais duas elevações na Selic.

“O Copom só ministra o remédio. O problema está em quem causa a doença”, disse ele, para quem a execução orçamentária é a principal causa do “desequilíbrio macroeconômico” no Brasil.

Plano Safra

Nesta quarta-feira, antes do anúncio da nova taxa de juros, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, se reuniu com o da Fazenda, Fernando Haddad, em Brasília. Fávaro admitiu que a escalada dos juros tende a dificultar a definição do Plano Safra para o ciclo 2025/26. E indicou que o governo vai procurar medidas alternativas para o crédito rural.

“Falar em aumentar orçamento para qualquer ação pública é botar gasolina no fogo, mas também se não fizermos um bom Plano Safra, que estimule a produção, é largar o fogo aceso”, afirmou. “Estamos vendo o grande desafio do ministro Haddad em garantir teto de gastos, a responsabilidade fiscal, exatamente para que possa conter a elevação de taxas de juros, [e ter] consequente estabilidade econômica, um dólar ter mais tranquilidade e, inclusive, [para fazer] os preços dos alimentos caírem”, acrescentou, em conversa com jornalistas.

Fávaro disse também que o governo estuda formas de deixar as taxas de juros mais atrativas para financiar culturas como arroz, feijão e hortaliças. Seria uma tentativa de estimular a produção, aumentar a oferta e barateá-los para o consumidor final. No Palácio do Planalto, há preocupação também com produtos como carnes, óleo de soja e café.

Máquinas

Tentando se recuperar de perdas de anos anteriores, a indústria de máquinas agrícolas também está atenta à escalada das taxas de juros. Para a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), os custos para financiar um equipamento ficam inviáveis. Ainda assim, a expectativa para 2025 é vender 8% a mais que em 2024.

O setor está entre os que aguardam as definições do Plano Safra para saber qual o volume de recursos para o Moderfrota (financiamento para aquisição de máquinas e equipamentos) e Pronaf (financiamento para agricultura familiar). A Abimaq e outras entidades têm até o dia 7 de março para enviar sugestões para o governo federal. As informações são do site Globo Rural.

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