Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 23 de abril de 2023
O cenário de destruição protagonizado por vândalos na Praça dos Três Poderes, em Brasília no dia 8 de janeiro, ainda ecoa de forma nítida pelos prédios da capital federal e as articulações políticas e escândalos desvelados nos últimos dias levam a crer que o tema seguirá no centro da pauta política do país por tempo indefinido.
Com promessa de travar votações no Congresso, parlamentares bolsonaristas começaram a última semana tentando forçar a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os atos antidemocráticos. Depois da divulgação de novas imagens de segurança do Palácio do Planalto no dia dos ataques, da queda de um general escolhido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a segurança institucional e da guinada da bancada governista em favor da comissão, a tendência é que ela seja aprovada nos próximos dias.
A reportagem conversou com pesquisadores políticos para entender o que está em jogo para situação e oposição diante do cenário que se apresenta.
Na última semana, um grupo de deputados bolsonaristas capitaneados por nomes como Nikolas Ferreira (PL-MG), Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Coronel Chrisóstomo (PL-RO), Julia Zanatta (PL-SC) e André Fernandes (PL-CE), invadiu a reunião de lideranças do Congresso Nacional para pressionar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) pela abertura da CPMI.
Alegando já ter o número de assinaturas necessárias para que a comissão fosse aprovada, os parlamentares manifestaram revolta com o adiamento da sessão conjunta entre as casas do Legislativo que poderia definir a instalação do inquérito. Na sequência, os deputados anunciaram que travariam pautas do governo no Congresso Nacional enquanto o tema não fosse apreciado.
Até então, a postura da base governista, embora tímida, era pela não realização da CPMI. A oposição batia na tecla de que houve omissão e conivência do governo federal durante os ataques de 8 de janeiro e já havia sinalizado o interesse em inquirir membros da equipe de Lula sobre essa perspectiva, como ocorreu nas visitas do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados.
“Há assinaturas, tem quórum, é constitucional e regimental a abertura da sessão. Por que a esquerda não quer? O medo precede a culpa”, chegou a declarar o deputado Nikolas Ferreira, criticando a resistência à abertura da comissão.
A divulgação de imagens inéditas das câmeras de segurança do Palácio do Planalto no dia dos ataques deu novo combustível à narrativa bolsonarista e culminou em uma mudança de postura entre os governistas. As filmagens mostram o general Gonçalves Dias, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), caminhando na antessala do gabinete de Lula com uma postura supostamente omissa diante dos atos de vandalismo ali praticados. Outros membros do GSI foram registrados orientando e até dando água aos manifestantes. O militar entregou o cargo no mesmo dia.
A reação dos parlamentares bolsonaristas às imagens foi imediata e a interpretação seguiu a linha de que o governo foi propositalmente omisso durante os ataques de 8 de janeiro. O deputado André Fernandes (PL-CE), autor do requerimento da CPMI e ele mesmo investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de ter incitado os atos golpistas, chegou a anunciar que pediria a prisão preventiva de Gonçalves Dias.
Após a repercussão do caso, integrantes da equipe de Lula se pronunciaram pela primeira vez em apoio à abertura da comissão. “Vamos enfrentar este debate político, que está tentando se criar por aqueles que passaram pano para os atentados do dia 8 de janeiro. Na minha opinião, esse enfrentamento político será pá de cal nessa tentativa de criar uma teoria conspiratória, que é um verdadeiro terraplanismo”, disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP).