Domingo, 20 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 17 de abril de 2025
O Censo Escolar 2024, divulgado na semana passada pelo Ministério da Educação (MEC), revelou um conjunto de dados que, conforme o humor e a paciência de quem os observa, podem ser vistos positiva ou negativamente. No perfil educacional radiografado pelo Censo, sobressaem-se avanços bem-vindos, como o crescimento das matrículas do ensino médio integral nas escolas públicas, e recuos preocupantes, como a queda de matrículas no ensino básico como um todo e, em particular, na educação infantil. Ou, ainda, uma soma de boas e más notícias numa só etapa, como o maior número de crianças matriculadas em creches combinado com a longa distância que ainda separa o Brasil das metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE).
Não é preciso mau humor ou impaciência, contudo, para constatar aquele que talvez seja o mais eloquente retrato do abismo que persiste entre o desejo de um país transformado pela educação, dotado de condições propícias para o seu desenvolvimento, e a realidade dos fatos. Como o Estadão destacou ao retratar o novo Censo Escolar, o número de alunos no ensino médio técnico atingiu apenas metade, ou 49,6%, do que a meta previa para o meio desta década. Em 2014, o PNE estipulava que a educação profissional e tecnológica de nível médio deveria triplicar até o ano passado, chegando a 4,8 milhões de matrículas. Mas não passamos de 2,4 milhões de matrículas. Com a marca, o País chegou a 13,1% dos estudantes de ensino médio cursando o ensino técnico. É muito pouco diante das evidências de que a educação profissional e tecnológica configura um dos principais investimentos de países ricos em seus sistemas de ensino.
A média, por exemplo, dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade conhecida como o “clube dos países desenvolvidos”, é de cerca de 40%. Há países, como Alemanha e Finlândia, que exibem números ainda maiores: 49% e 68%, respectivamente. A boa notícia é que, ao menos na intenção, o ministro da Educação, Camilo Santana, está mirando no padrão dos países ricos (“o nosso desejo é colocar o Brasil nos patamares dos países da OCDE, é ousadia minha?”, afirmou, ao comentar os dados do Censo). A má notícia é que parece haver timidez em excesso na busca de meios para tornar concreta a ambição. Convém reconhecer que há boas iniciativas em curso no âmbito do MEC, mas é hora de acelerá-las, sob pena de o Brasil não só se acostumar à timidez dos avanços incrementais, como também desperdiçar oportunidades num mundo que, mais do que nunca, requer mão de obra qualificada e especialização técnica.
O ensino técnico e profissionalizante, como este jornal não cansa de sublinhar, significa pavimentar o caminho de jovens e futuros profissionais – e, consequentemente, o País – para melhores oportunidades. É o mais ancorado à atual revolução tecnológica que virou o setor produtivo do avesso. Reduz desigualdades, eleva os salários de quem traz no currículo a formação técnica e empurra a economia para a frente ao melhorar a produção e a competitividade, como informam as boas experiências dos países ricos. Há tempos países como Alemanha e Suíça adotaram o que especialistas chamam de “sistema de aprendizagem”, no qual a educação se desenvolve de forma articulada com o trabalho.
O Brasil habituou-se, porém, a estigmatizá-lo como uma modalidade menor de ensino ou mera alternativa ao ensino universitário. Entre nós sempre imperaram o preconceito contra o ensino técnico e a cultura bacharelesca. O próprio MEC historicamente glorificou os diplomas universitários, não raro ajudando a difundir a ideia de que sucesso é ter esse certificado. Sem esquecer os efeitos danosos das correntes marxistas – que, durante muitos anos, dominaram o pensamento acadêmico brasileiro – segundo as quais a formação técnica não passa de um mecanismo burguês para manter a alienação das massas trabalhadoras. E assim se criou uma falsa dicotomia que associa formação acadêmica a ofícios intelectuais e a formação técnica a trabalhos braçais. Se já era duvidosa no século passado, no século da revolução industrial 4.0 se torna ainda mais anacrônica. (Opinião/Jornal O Estado de S. Paulo)