Quinta-feira, 17 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 13 de abril de 2025
Criado há 20 anos, Programa Universidade para Todos (ProUni)beneficiou milhares de estudantes, mas a queda em número de matrículas sinaliza que a iniciativa precisa ser reformulada para refletir melhor o mundo atual. O número de matrículas em curso superior por meio do ProUni vem recuando consecutivamente desde 2020. No ano passado, de acordo com o Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior, o ProUni ofereceu 651 mil bolsas, mas apenas cerca de 30% foram utilizadas.
Instituído em 2005, o ProUni já beneficiou quase 3,5 milhões de estudantes brasileiros. O programa oferece bolsas de estudo parcial e integral para alunos de baixa renda.
É inegável que iniciativas para estimular o acesso à educação num país tão desigual e injusto quanto o Brasil é uma necessidade. Por meio do ProUni, famílias que há gerações estiveram barradas do ensino superior finalmente viram um ou mais de seus membros conquistarem o tão sonhado diploma, experiência que pode ser um divisor de águas nos níveis de renda e bem-estar.
A queda constante no número de matrículas via ProUni sinaliza, contudo, que o programa deve ser revisitado, de modo a refletir melhor as necessidades de um mundo em que o acesso ao conhecimento e ao mercado de trabalho passa por rápida transformação.
Em diversos países do mundo, jovens da chamada geração Z (formada por nascidos entre 1995 e 2010) têm demonstrado inquietação com o futuro. Embora seja considerada supereducada em comparação aos baby boomers, como é chamada a geração nascida no pós-guerra, entre 1946 e 1964, a geração Z demonstra extrema angústia com o custo de vida e com a dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Não raro, sente-se traída porque, a despeito de ter se dedicado aos estudos, não se vê recompensada por seus esforços.
Comprar um imóvel ou pagar aluguel é bem mais caro hoje do que foi para os boomers, ainda que em termos de instrução formal a geração dos filhos do pós-guerra seja menos privilegiada que a dos jovens da geração Z.
No Brasil, os problemas se sobrepõem. Durante décadas, valeu a máxima de que um diploma universitário era a chave para a prosperidade. O conhecimento é indubitavelmente uma jornada transformadora, que oferece aos mais diferentes indivíduos meios de entender melhor sua própria condição.
Mas a elevada expectativa que se colocou no acesso ao ensino superior gera extrema frustração quando, ao fim de um curso universitário, o jovem de família pobre se depara com a realidade de um mercado de trabalho que para ele permanece inacessível, apesar da promessa de que, se se esforçasse, seria recompensado com um bom cargo e boa renda.
Isso se dá por diversas razões. Seja porque a qualidade do curso escolhido não era boa o suficiente para que o formado conquistasse um emprego promissor, seja porque a educação de base do estudante não lhe permitiu acompanhar as aulas do curso superior de forma satisfatória, ou seja, ainda, porque a faculdade escolhida não está em sintonia com as necessidades de uma economia global em acelerada transformação.
Por fim, o fato de que o aumento da escolaridade do brasileiro, nas últimas décadas, não se traduziu em aumento da produtividade do trabalhador só corrobora a necessidade de que políticas públicas como o ProUni sejam aperfeiçoadas.
Uma das críticas que se fazem ao programa, e que ajudaria a explicar a queda no volume de matrículas, está relacionada ao fato de que as bolsas disponíveis são para cursos de pouca demanda, ou seja, sobram vagas que ninguém quer. Adequar a oferta dos cursos às necessidades dos estudantes e do mercado de trabalho é um primeiro passo para que o programa seja efetivamente benéfico para o País.
Também é essencial reconhecer que nos últimos anos tem crescido entre a população o desejo de empreender, atividade que não exige curso superior, especialmente em época em que o conhecimento já não está circunscrito aos muros das universidades.
E há ainda o fato de que cursos técnicos de duração menor muitas vezes oferecem aos estudantes uma formação mais sólida e orientada que a de faculdades de quatro ou cinco anos cuja existência não faz lá muito sentido.
Embora a experiência de duas décadas do ProUni tenha produzido frutos, repensar o programa é essencial para que ele se mantenha relevante no futuro. As informações são do portal Estadão.