Desde o começo da pandemia de coronavírus em território gaúcho, na primeira quinzena de março, a Central Estadual de Transplantes do Rio Grande do Sul tem mantido praticamente estável a quantidade de procedimentos envolvendo a doação e recepção de órgãos para salvar vidas. Foram 63 cirurgias entre março e junho, somente uma a menos que no mesmo período do ano passado.
Segundo a coordenadora da Central, Sandra Lúcia Coccaro de Souza, a manutenção das taxas se deve às ações de planejamento implementadas, a exemplo do intercâmbio de experiências com outras instituições. As iniciativas incluíram uma conferência on-line com médicos de um hospital da cidade chinesa de Wuhan, justamente a região identificada como foco inicial da doença no planeta.
“Eles relataram informações sobre as manifestações da doença e agudização rápida do quadro, podendo levar à morte”, relatou Sandra. “Essa troca de experiências qualificou o trabalho da Central de Transplantes no enfrentamento às dificuldades trazidas pela Covid-19, como a disseminação viral de doador para receptor em lista de espera e os riscos aos trabalhadores da área da saúde.”
Ainda segundo ela, as avaliações de infectologistas e intensivistas foram determinantes para uma boa preparação das equipes de captação e de transplante. Isso também abrange a importância de cuidados como o isolamento dos pacientes e equipes de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), bem como do uso de equipamentos de proteção individual pelos profissionais do setor.
Brasil
Em âmbito nacional, porém, o número de transplantes caiu mais de 40% desde o início da pandemia, ao passo que o contingente de doadores recuou 34%, segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos). A retração se acentuou a partir da segunda quinzena de maio, quando houve um recuo de 49%. Nas duas primeiras semanas de junho, a baixa já era em 45%.
A diminuição de transplantes começou a acontecer desde o primeiro óbito pela Covid-19 identificado no País, em 17 de março. Até o último dia 14, segundo a Coordenação Geral Sistema Nacional de Transplantes (CGSNT), a queda no número de transplantes de rim, fígado, pâncreas, coração e pulmões foi de 43%, em média.
Dentre os principais motivos está a alta ocupação dos leitos de UTI *Unidade de Terapia Intensiva), redução dos voos (dificultando o transporte dos órgãos) e o medo de que doadores e pacientes sejam contaminados pelo coronavírus nos hospitais. A situação é preocupante, já que as vidas de muitas pessoas dependem de um novo órgão e não há perspectivas, no curto prazo, de normalização desse cenário.
O Brasil realiza cerca de 30 mil procedimentos anualmente e é o maior sistema de transplante público do mundo. Até março, 26.816 pessoas aguardavam órgãos no País, de acordo com a ABTO. Dessas demandas, 24.879 são por rins: só em maio foram 294 transplantes desse tipo. Ano passado, foram cerca de 500 no mesmo mês, quase 30% a mais.
(Marcello Campos)