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O organismo “mercado”

Existe uma ideia sendo ventilada por algumas pessoas de que o mercado financeiro não tem relação com a economia real. (Foto: EBC/Divulgação)

Existe uma ideia sendo ventilada por algumas pessoas de que o mercado financeiro não tem relação com a economia real e, pelo contrário, é um “ambiente” controlado por banqueiros, famílias herdeiras de grande patrimônio e “operadores” com objetivo único de especulação e enriquecimento às custas do resto da população.

O mercado, por vezes tratado como uma entidade, é um ambiente de trocas que busca a melhor alocação para o capital. Quando se fala de capital, deve-se considerar não somente o capital especulativo, mas também o capital detido por qualquer agente da economia (governos, empresas e pessoas). As informações novas são incorporadas nas expectativas e refletidas nas alterações dos preços. As variações dos preços dos ativos financeiros têm impacto direto na economia real.

Por exemplo, a curva de juros futuros, formada por contratos negociados no mercado financeiro, reflete a expectativa sobre a trajetória futura da taxa básica de juros do país, e, quando um agente pega dinheiro emprestado, é essa a baliza que os “emprestadores” utilizam para precificar (definir os juros) o dinheiro a ser emprestado.

O mercado de ações, na mesma linha, representa um canal de financiamento e captação de recursos para as empresas. Quando os preços caem, por quaisquer que sejam os motivos, os incentivos a buscar mais recursos via mercado são menores e, portanto, os projetos de expansão e crescimento tornam-se menos viáveis, criando um impacto na geração de renda do país.

Outro ponto é a taxa de câmbio, ou preço do dólar em reais. A maioria das commodities são negociadas, globalmente, em dólar. Quando temos uma variação do dólar em relação ao real, todos os produtos que têm, em sua cadeia de produção, algum insumo com preço em dólares, terão, por consequência, variação do seu preço em reais. Se o dólar sobe, então, mantendo o resto constante, temos pressão inflacionária em produtos como trigo, milho, arroz, soja, açúcar e combustíveis.

O mercado, portanto, tem influência direta em todos os participantes da economia, assim como todos os participantes influenciam diretamente o mercado, e é por isso que não existem incentivos financeiros para um grupo de participantes desviar os preços dos fundamentos para benefício próprio. Assim, quando os juros sobem, o dólar sobe e a bolsa cai, deve-se entender como um alerta para a atividade e inflação do país, por exemplo. Nesse sentido, é importante que os tomadores de decisão da economia brasileira, principalmente os governantes, não subestimem a importância do recado que os preços trazem, pois, como citou Ayn Rand, “Você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade”.

Juliano Fante, controller na Fante Bebidas e associado do Instituto de Estudos Empresariais (IEE)

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