A cidade de Porto Alegre está diferente. Trânsito mais pesado. Ruas com estacionamentos dos dois lados dificultando a passagem dos veículos.
O que teria acontecido? Uma das explicações é a presença de mais de 35 mil carros fazendo transporte por aplicativo, especialmente UBER.
Parece que tem 10 carros de aplicativo por cada taxi na cidade. Logo, acrescente-se a frota do Uber ao que já existia e, pronto: uma tempestade perfeita.
As locadoras de veículos nunca lucraram tanto. Aluguéis de carros para…Uber. Um taxista me disse que há frota de Uber por investimento, quer dizer: há gente que tem vários carros e aluga para motoristas de Uber.
Veja-se o paradoxo. A solução do problema se transforma em um problema da solução. O transporte público falhou. Fracassou. E, hoje, pode-se andar de Uber pela metade ou até menos do preço de taxi.
Um Uber X custa, dependendo o trecho, um pouco mais do que a lotação, que, por sinal, está quebrando.
A solução do problema virou o problemão da solução. E não tem volta. O paradoxo – na verdade, o segundo paradoxo – é que sem o Uber estamos lascados também. Se proibissem hoje o Uber, como fez Londres, ficaríamos desasados. Só que Londres tem transporte público eficiente.
Assim, eu odeio e amo o Uber. Como fazer? A pós-modernidade trouxe isso: você pode ter uma transportadora com milhões de carros e não tem empregados-motoristas e… nem mesmo automóveis. É como ter uma grande transportadora de carga e não ter caminhões. Tempos de pós-modernidade.
Já estão acabando com os cobradores de ônibus. Acabaram com os cobradores de tickets de estacionamento nos shoppings.
Logo, logo, os Ubers irão andar sem motoristas.
Veja-se: quanto menos transporte público, mais precisamos de alternativas. De um lado, as bicicletas que começam a infestar as vias públicas, com ciclistas que disputam com as motos o modo de não cumprir as leis de trânsito.
Motos que passam raspando nos carros, carregando comida, pacotes… Falta, agora, o Uber-moto-taxi. Seria (será?) uma decorrência logica, uma vez que, com tantos carros nas ruas, as motos serão a solução para passar no entremeio dos carros.
Minha mulher fez uma interessante alegoria do fenômeno Uber: parece Serra Pelada, disse. Por quê? Porque para Serra Pelada todos corriam para achar ouro. Virou um formigueiro. Hoje, com a crise econômica, o Uber é o lote a ser escavado na busca do minério precioso.
O problema: Serra Pelada acabou. Poluiu, excesso de gente e sabe se lá o que mais.
Não sei como isso tudo ficará. Só sabemos que o trânsito está cada vez pior. E, dizem, a cada dia, mais motoristas de aplicativos se incorporam a esse exército que serpenteia nas ruas da grande cidade.
E eu fico nesse paradoxo. Gosto e desgosto. E o caro leitor?