Na semana em que se completam três meses do coma do australiano Christopher John Gott, atropelado junto com outras 17 pessoas na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em 18 de janeiro deste ano, algumas das vítimas do pedófilo falaram sobre o abuso sofrido na Austrália.
Inicialmente identificado como Daniel Marcos Philips, Gott, de 68 anos, era professor na escola Saint Paul’s, na cidade australiana, onde conhecia os jovens dos quais abusou. Gott estava foragido da polícia de seu país há mais de 20 anos.
Conforme reportagem do jornal O Globo, boa parte dos casos acontecia em sua casa. Outros ocorreram em um hotel, com um grupo de quatro garotos, sendo três deles menores de 14 anos. Em depoimentos à Justiça, os meninos contaram que houve uso de álcool e maconha durante o encontro. A polícia identificou ainda abusos ocorridos em um lago, envolvendo cinco adolescentes entre 12 e 15 anos, e dentro de um carro. Nenhuma das vítimas era aluno dele.
Os crimes aconteceram até dois dias antes de o professor Gott ser preso, em abril de 1994. Gott respondeu a 17 acusações e foi condenado a seis anos de prisão. Na época, a população da cidade de 80 mil habitantes ficou chocada com o caso.
“É muito desconfortável saber que ele lecionava em Saint Paul’s. Às vezes, você não conhece os seus vizinhos realmente”, disse uma vizinha do professor Gott à reportagem.
Mau pagador
A proprietária que alugou uma casa para o professor, Lina Giacoponello, disse que ele morou lá com o filho e dois meninos antes de os crimes serem denunciados. E que o pedófilo saiu sem pagar o aluguel.
“Meus filhos estudavam no colégio em que ele lecionava. Ele me pediu para alugar o imóvel, e eu aluguei. Mas ele não era muito bom. Saiu da casa me devendo, e quando fui cobrá-lo, ele disse: “Estou quebrado”. Mas ele tinha um apartamento luxuoso”, disse Lina Giacoponello.
A investigação dos crimes de pedofilia correu rapidamente na Justiça australiana. Na sentença, a juíza Sally Thomas lamentou que o professor tenha cometido os abusos e se mostrou preocupada com a segurança de Gott na prisão, considerando-se a natureza dos delitos.
Gott fugiu da Austrália dois anos depois de cumprir parte da pena de seis anos, quando cumpria o restante da sentença em liberdade condicional. No Brasil, ele ajudou a criar quatro meninos. Em entrevista por telefone ao “Fantástico”, eles disseram que nunca sofreram qualquer tipo de abuso, e consideram o professor como um pai.
Após o acidente em Copacabana, no início do ano, Gott foi identificado como turista australiano pela polícia do Rio, mas só depois de analisada a cópia de seu passaporte e de ter as digitais coletadas é que foi descoberta a sua verdadeira identidade.
Internado no Hospital Miguel Couto, na Gávea, os médicos que o assistem afirmam que o estado do professor australiano é gravíssimo, e praticamente irreversível.
Cameron Stuart, repórter que trabalha para o jornal australiano que noticiou a descoberta de Christopher John Gott no Brasil e seu passado de crimes sexuais comentou os desdobramentos do rumoroso caso.
“Ele ainda é um homem procurado [pela Justiça]. A polícia não tinha ideia de onde ele estava. Dezessete acusações de abuso sexual não são pouca coisa, e Darwin é uma cidade pequena. Foi um caso de grande repercussão na época. É uma história incrível, que ainda tem outras perguntas no ar: quem vai cuidar dele enquanto ele estiver em coma? A família brasileira? O governo brasileiro? As autoridades australianas vão pedir a extradição? É complicado, por causa do estado de saúde, mas, de qualquer forma, é um final muito estranho para esse homem”, disse o jornalista ao programa Fantástico, da Rede Globo.