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Colunistas O pêndulo da civilidade

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Ao final do torneio de Wimbledon, disputado neste último dia 16.07.2023, o consagrado tenista sérvio, Novak Djokovic, perdeu para o jovem e promissor tenista espanhol, Carlos Alcaraz. Mais do que um jogo extraordinário, chamou a atenção a forma como o fenomenal atleta sérvio encarou a derrota. Com um sorriso no rosto, do alto de toda a sua glória esportiva e de seus já 36 anos, Djokovic exclamou para um radiante Alcaraz: “Tu mereceste, absolutamente! Parabéns, incrível!”. Como sabemos, o esporte, assim como outras áreas e atividades, podem expressar o melhor e pior da natureza humana. Em Wimbledon, tivemos uma amostra de uma das atitudes mais magnânimas que podemos produzir: reconhecer a derrota e, mais, louvar a vitória do adversário, superando racionalmente a prostração diante do infortúnio, a inconformidade perante eventual fracasso e a própria ira decorrente da má sorte. A quase 2.000 km do palco londrino, dois dias antes, no aeroporto de Roma, alguns brasileiros ofenderam o Ministro do Supremo, Alexandre de Moraes e chegaram a agredir o seu filho, numa versão completamente avessa à grandeza demonstrada por Novak Djokovic. Guardadas as circunstâncias e as proporções, é inegável que as diferenças de comportamento observados nos dois exemplos revelam o quão instável e delicado é o tecido civilizatório que nos envolve e como os mecanismos de contenção dos ecos obscurantistas precisam ser permanentemente assegurados.

Alçando o olhar para um pouco mais perto do episódio de Roma, temos algo além do estado de ânimo e de educação para observar, algo que tem a ver com a crescente intolerância que atualmente permeia o debate político e de liberdade de expressão em nosso meio. Não apenas no Brasil, mas em várias partes do mundo, a radicalização, o autoritarismo e o populismo se converteram em ameaças às democracias, com agendas que se baseiam no sectarismo e até na violência como elementos de afirmação de suas doutrinas. Nos EUA, por exemplo, a divisão de opiniões extrapolou a esfera da política para determinar decisões que regem o dia a dia das pessoas. Em outras palavras, critérios de opções políticas estão avançando para a escolha da escola dos filhos, a loja em que se vai comprar, os amigos que privarão de nossa presença e muitas outras preferências moldadas agora por uma pauta de costumes até então circunscrita ao direito individual de cada cidadão. Entre as várias consequências negativas desse quadro de intransigência está a de que ele empurra as pessoas na direção de opiniões e ações irrefletidas, como se pode confirmar no ataque ao Ministro Alexandre de Moraes. É fácil, nessa dinâmica conflitiva instalada, reagir no automático a qualquer coisa que pareça vir do campo oposto, seja uma mercadoria, uma música, ou alguém de quem discordamos politicamente.

Como bem lembrou Steven Pinker, no seu monumental livro “O Novo Iluminismo”, desde os primórdios, a humanidade busca um caminho para avançar entre a violência da anarquia e a violência da tirania. O despotismo, nessa perspectiva, persistiu não somente porque ser um déspota é vantajoso para quem o consegue, mas também porque as alternativas que se oferecem ao povo são ainda piores. Isso é particularmente perturbador ao sondarmos a tendência ancestral à violência que carregamos. Segundo Leandro Karnal, odiar dá identidade a um grupo, preenche o vazio da vida e movimenta energias represadas. O ódio é um analgésico poderoso. É disso que se trata quando não cuidamos dos sentimentos e emoções mais primitivos que nos habitam.

Somos uma democracia imperfeita. Temos que aprimorá-la. O caminho, portanto, é mais, e não menos democracia; é mais, e não menos diálogo; é mais, e não menos civilidade. Eventuais desacordos devem se circunscrever aos marcos legais e somente a eles. Se não for possível esperar, como regra, tanto no debate público como em nossa convivência social que sejamos exemplares como Djokovic, que tenhamos a necessária consciência de que não há caminhos razoáveis à margem da Lei. Isso já seria um grande avanço!

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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